Após o cumprimento dos 184 shows da turnê “The Beast on the Road”, o baterista Clive Burr entrega as baquetas relatando problemas pessoais, mas demonstrando exaustão por acompanhar a rotina de shows banda. Sua última apresentação foi no Niigata Prefectural Civic Center, em Niigata (JAP), no dia 10 de dezembro de 1982.
Com “The Number of the Beast” a banda alcançou um status monstruoso e não podia parar por ali. O londrino Nicko McBrain que lançou álbuns nos anos 70 e começo dos 80 com as bandas Streetwalkers, Pat Travers e Stretch, estava excursionando com o grupo francês Trust, que promovia o disco “Marche ou Crève”/“Savage” (1981) quando abriu um dos shows do Iron Maiden. Por ser conhecido do baixista Steve Harris e sua turma foi convidado a substituir Clive Burr e aceitou. No início Nicko tocou como músico temporário, mas seu estilo agradou tanto à banda que logo passou a ser membro definitivo. Em janeiro de 1983, com novo álbum em vista o Iron Maiden parte para gravá-lo no Compass Point Studios, em Nassau, Barhamas.
Diferente da sonoridade de “The Number of the Beast”, o seu sucessor “Piece of Mind”, liberado em 16 de maio de 1983 surge com uma produção mais abafada, característica notada logo nos primeiros momentos de “Where Eagles Dare” e que tentaram corrigir no relançamento de 1998. Porém, este detalhe que se tornou uma marca do produtor Martin Birch, que acompanhou a banda até 1992, pouco importou para os fãs e crítica musical.
Soando tão pesado quanto o seu antecessor, porém valorizando melhor a melodia em músicas como “To Tame a Land”, o quarto álbum do Iron Maiden rendeu dois singles, “Flight of Icarus” e “The Trooper”, que se tornaram hinos na cabeça do público. “A habilidade de McBrain em duplicar os padrões complexos dos riffs de guitarra e baixo dá à banda uma unidade de conjunto. Mesmo Steve Harris, cujas linhas de baixo ocupadas nunca foram exatamente orientadas para o groove, nunca se sentiu mais integrado ao som em geral. Talvez parte desse sentimento venha do ritmo menos frenético que a do último álbum, que teve uma menor duração e influências do punk que ainda estavam presentes e, que aqui, foram completamente erradicadas”, analisou Steve Huey da AllMusic.
Os dois singles que traziam a essência pura do Iron Maiden ganharam videoclipes e fizeram sucesso nos EUA, por sua vez canções como “Quest for Fire” e a citada “To Tame a Land” conduziam a banda a um caminho mais progressivo, mas sem deixar de lado as qualidades fundamentais do Heavy Metal. Isso contribuiu para a estreia da banda na Billboard 200, com “Piece of Mind” emplacando a 70ª posição. Na Inglaterra o disco despontou no terceiro lugar.
Em “Still Life”, canção que foi escrita pelo guitarrista Dave Murray e Steve Harris, há um efeito na introdução que nada mais é que McBrain imitando o ex-ditador da Uganda Idi Amin Dada, em uma citação que diz de trás pra frente: “O que ele disse com os três ‘bonce’, não se intrometa em coisas que você não entende. ..”. Isso seria uma paródia em resposta às acusações de satanismo que a banda recebeu de grupos religiosos.
Assim como nos álbuns anteriores, as letras das músicas são baseadas em fatos históricos e assuntos fictícios influenciados pelo cinema e literatura, no entanto, não foram todas as letras que agradou ao próprio autor, Steve Harris, como “Quest for Fire”. A música inspirada em um romance de J.H. Rosny Aîné não trouxe muita alegria ao chefão. “Há algumas linhas em ‘Quest for Fire’ que eu gostaria de ter mudado por questões óbvias!”, frisou o baixista.
O álbum que originalmente se chamaria “Food for Thought”, para muitos estreou a formação clássica da banda com Bruce Dickinson no vocal e Adrian Smith na outra guitarra. Sobre outras conquistas de “Piece of Mind”, o trabalho foi contemplado com disco de ouro na Alemanha e Finlândia, platina nos EUA e Reino Unido e platina dupla no Canadá. No relançamento de 1995 um CD bônus veio com covers de “I’ve Got the Fire” do Montrose e “Cross-Eyed Mary” do Jethro Tull, que é uma das maiores influências de Harris. Os singles lançados ainda obtiveram ótimas colocações em países como Áustria, Holanda, Nova Zelândia, Noruega e Suécia além dos outros já citados nesta matéria.
Se “The Number of the Beast” abriu as portas para uma carreira sólida do Iron Maiden pelo mundo, “Piece of Mind” assegurou com categoria a pavimentação desse sucesso até algo maior com o lançamento de “Powerslave” (1984), mas isto é assunto que você lerá amanhã na sequência desta série.
Formação:
Bruce Dickinson – vocal
Adrian Smith – guitarra
Dave Murray – guitarra
Steve Harris – baixo
Nicko McBrain – bateria
Faixas:
01. Where Eagles Dare
02. Revelations
03. Flight of Icarus
04. Die With Your Boots On
05. The Trooper
06. Still Life
07. Quest for Fire
08. Sun and Steel
09. To Tame a Land
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9/10