Todo mundo conhece Deep Purple. Embora eles não tenham todos os “elementos básicos requeridos para serem literalmente uma banda de Heavy Metal”, a banda sempre foi vista como um dos pilares contribuintes para o gênero. Embora Black Sabbath tenha muito mais a ver como o que o Heavy Metal soou, no passado e presente, a musicalidade do Deep Purple sempre foi vista como uma das influências seminais e obrigatórias para qualquer um que prezasse pela melhor qualidade sonora e técnica. Contudo, quando falamos de Deep Purple geralmente consideramos do 4° álbum para frente, que já contava com a “formação clássica”, que incluía Roger Glover e Ian Gillian junto aos demais.
E para muitos, é nesse quarto disco, com essa formação clássica, que consideram que o Deep Purple realmente começou. Eu como ouvinte casual, embora tenha algumas músicas da banda na minha “playlist de músicas favoritas de todos os tempos”, por muito tempo acreditei que nunca tinha existido um Deep Purple sem Gillian nos vocais. Quando finalmente realizei que houveram outros vocalistas (além do Coverdale) que gravaram com a banda e fizeram parte da formação oficial, tive de verificar. Foi aí que tive meu primeiro contato com “Shades of Deep Purple”. E embora o “esqueleto” da banda já estivesse consolidado, torna-se muito clara a importância e influência de um vocalista em uma banda. Pois a presença de um Rod Evans mudou totalmente o tom com que você percebe as músicas da banda, especialmente se você sempre teve consolidada em sua memória Ian Gillian, David Coverdale ou Glenn Hughes como referências sonoras em se tratando de vocal. O que da vigência para um impacto, que dependendo da sua ligação com banda, pode gerar um pouco de decepção (por causa das expectativas que os demais vocalistas sempre lhe causaram).
A outra diferença na formação está no baixista, Nick Semper. Mas nota-se menos, pois Semper é um baixista competente e logo não se sente em nenhum momento que a banda está tendo dificuldades em executar exatamente o que se propuseram a fazer, ou que as linhas de baixos eram mais “simples e inferiores” por causa do músico. Nada disso. A banda continua com todas as frentes intactas, deixando a diferença mais notável por conta do vocalista.
E mesmo assim “Shades” ainda, para mim, se assemelhou muito mais com um tipo de álbum que os Beatles talvez lançassem em sua “era hippie” do que do próprio Deep Purple (e claro que o cover/versão de “Help” ajudou a consolidar mais ainda essa impressão). O vocal de Rod é bem mais comercial e amigável, e a maneira com que trabalharam os backing vocals ajudaram a dar mais ainda aquela impressão “Beatles” na pegada, se não fosse pelas linhas de bateria bem trabalhadas, os teclados psicodélicos de Lord, talvez fosse fácil de confundir o álbum com algo dos “Meninos de Liverpool”. “Hey, você por um acaso está dizendo que Richie Blackmore está no mesmo nível de guitarra que John Lennon ou George Harrison?! Como ousa?!”, não eu não estou. Richie ainda continua sendo um músico superior tecnicamente falando, mas ele, assim como a dupla dos Beatles, entendia muito bem de proposta musical e demanda harmônica. Sendo versátil o suficiente para “tocar no nível que a música pede” sem se sentir rebaixado, e ainda assim, os licks que colocava entre uma parte ou outra, ou os solos que faz, não nos deixam esquecer quem ele é, o que é capaz de fazer, e por que aquele é um disco do Deep Purple.
Mesmo o cover de “Help” não se parece muito com a música dos Beatles, você provavelmente só reconhecerá, se prestar atenção na letra, ou se viu no encarte escrito os créditos de composição. A mesma coisa acontece com o cover de Jimi Hendrix, de “Hey Joe”. Que começa com uma ênfase bem maior em teclados, do que em guitarra. Embora você já seja mais capaz de reconhece-la assim que Rod começa a cantar, e sua voz casa muito bem com a música.
Infelizmente as músicas memoráveis deste disco, não são de composição da banda; se tratando de “Help”, “Hey Joe” e “Hush” (que foi composta por John South para a banda Deep Purple, mas não conta como composição da banda tecnicamente). “Hush” era a única música deste álbum que eu já conhecia por nome, e sabia mais ou menos como era e cantar algumas partes. Porém eu sempre achei uma música “à parte” do Deep Purple, não a considerando muito como parte do “repertório oficial”. É uma música ruim? Não, de jeito nenhum. Mas não tem a essência que muitos hoje em dia concordam ser característica de uma música do Purple.
Um destaque pessoal vai para “And the Address”, o instrumental que abre o álbum, que para mim tem tudo a ver com o que penso quando mencionam o nome “Deep Purple”, tempos quebrados, solos, progressões e muita psicodelia em 4:38 minutos. Os fãs de carteirinha do Deep Purple precisam conferir este álbum, que é cheio de qualidades e surpresas embora não tenha presença dos amados Glover e Gillian. Mas os ouvintes casuais que talvez estejam interessados em apenas ouvir os trabalhos mais famosos, e os hits mais conhecidos, podem pular este álbum caso prefiram. Será uma grande? Musicalmente falando sim, já que ele te ajuda a entender melhor os primórdios musicais da banda, de modo que todas as mudanças e fases fazem mais sentido. Porém ouvintes casuais geralmente não são fãs, então sem preocupações quanto a isso.
Este álbum é com certeza prazeroso de se ouvir, e tem um alcance abrangente. Jovens entusiastas de Rock n’ Roll ou pessoas que possuem um gosto musical fora do Rock possivelmente irão gostar (e essa é mais uma característica que este disco tem com algo feito pelos Beatles: o apelo mais comercial e abrangente).
Formação:
Rod Evans – vocal
Ritchie Blackmore – guitarra
Jon Lord – orgão
Nick Simper – baixo
Ian Paice – bateria
Faixas:
01. And the Address (instrumental)
02. Hush
03. One More Rainy Day
04. Prelude: Happiness/I’m So Glad
05. Mandrake Root
06. Help!
07. Love Help Me
08. Hey Joe