Hoje inicia-se o ciclo de uma nova banda no Roadie Metal Cronologia, a banda californiana de Thrash Metal Death Angel.
A banda foi formada em Daly City, na famosa ” San Francisco Bay Area“, no ano de 1982 pelos primos Rob Cavestany (guitarra), Dennis Pepa (Vocais, baixo), Gus Pepa (guitarra) e Andy Galeon (Bateria). A banda lançou sua primeira demo, “Heavy Metal Insanity“, em 1983, com uma sonoridade mais heavy metal do que propriamente Thrash.
Em 1984, outro primo dos integrantes e até então roadie da banda, Mark Osegueda, assumiu os vocais do Death Angel. Em 1985, a banda lançou mais uma demo, entitulada “Kill As One“, produzida pelo guitarrista Kirk Hammett do Metallica, a qual foi um sucesso e levou a banda a assinar um contrato com a Enigma Records para o lançamento de seu primeiro álbum, The Ultra-Violence.
O álbum, o qual é objetivo desta postagem, foi gravado enquanto todos os membros tinham menos de 20 anos de idade, sendo que o baterista Andy Galeon tinha somente 14 anos. Atualmente, o álbum é considerado um clássico do Thrash Metal.
O álbum se inicia com a faixa “Thrashers“, que tem impressionantes 7:33 minutos de duração. A música mostra logo de início a transição que estava ocorrendo entre o Heavy Metal e o Thrash Metal, não só com o som do Death Angel, mas com o cenário geral, já que o estilo ainda estava se consolidando. A bateria rápida e os vocais agressivos mostravam a faceta Thrash, enquanto os licks e backings do refrão ainda eram muito característicos do Hard Rock e Heavy Metal do início da década. Particularmente acho que a faixa é desnecessariamente longa, pois tirando as duas transições que ocorrem, pelo menos 4 minutos da música são uma repetição de uma mesma coisa.
A segunda faixa, “Evil Priest” é agressiva, rápida e visceral, lembrando muito obras clássicas do Slayer em alguns momentos. É uma mudança bem empolgante comparada com a faixa anterior, parece que a música flui melhor e não se repete desnecessariamente. Uma ótima música para um mosh pit. Nessa música ainda o vocalista Mark Osegueda solta um grito agudo que surpreende muito.
“Voracious Souls” se inicia com uma bela virada de bateria e em seguida vem uma introdução extremamente “groovada” muito bem executada. Nesta música ocorre algo interessante, onde a guitarra alterna rapidamente entre um riff distorcido e um riff limpo, que parece até acústico, no refrão. É algo bem inovador e diferenciado de se fazer, que dá ainda mais groove para a música pela dinâmica.
Em seguida temos “Kill As One“, faixa que vem da demo anterior de mesmo nome. Novamente nesta música se destacam os agudos à la “Angel Of Death” de Osegueda extremamente bem colocados na música, porém com um feeling bem natural de que realmente o vocalista estava gritando sem nenhuma técnica, o que é na verdade bem interessante para o Thrash da época. A faixa não permite que o ouvinte fique parado devido à sua velocidade constante, guiada pelo talentosíssimo Andy Galeon. Aqui vemos também o estilo de solo que o Slayer usou extensivamente em sua obra, abusando da alavanca da guitarra. Vale ressaltar que, no lançamento deste álbum, algumas obras icônicas do estilo haviam acabado de ser lançadas, como “Master of Puppets” do Metallica, em março de 1986, e “Reign in Blood” do Slayer, em outubro do mesmo ano. Logo, o Death Angel sem dúvidas já tinha bandas nas quais se inspirar, porém estas haviam acabado de lançar seus álbuns mais relevantes (na verdade, na gravação de “The Ultra-Violence“, o “Reign in Blood” nem havia sido lançado ainda), o que mostra que os jovens da banda tiveram muita criatividade em um gênero que ainda estava começando a se estabilizar.
Após ela, vem a faixa título “The Ultra-Violence“, a qual é a mais longa do álbum, com absurdos 10:34. Vale ressaltar novamente que “Master of Puppets” havia sido lançado em torno de um ano antes, sendo a faixa título de aproximadamente 9 minutos. Neste momento ainda era um grande risco uma banda lançar uma música tão longa, inclusive devido às limitações do LP. O Death Angel se arriscou mais ainda nesta faixa, pois são 10 minutos de puro instrumental, o que não era algo esperado neste estilo ascendente. Porém o risco foi completamente válido, pois a faixa é extremamente bem composta e bem executada, dando possibilidade de todos os músicos demonstrarem suas habilidades. Eu particularmente não sou muito fã de instrumentais, mas gostei desta música.
Em seguida, “Mistress of Pain“, já é uma faixa que não apresenta nada diferente do que o resto do álbum apresenta anteriormente, mas não é uma faixa que cansa como a faixa inicial.
A penúltima, “Final Death” é uma faixa que tem bastante alteração de ritmo, o que é algo bem interessante inclusive pela dificuldade de executar essas mudanças de maneira correta. Aqui novamente Osegueda abusa dos agudos, porém em uma das partes da música ele dá um grito tão longo que realmente surpreende. A faixa se encerra com um instrumental lento bem agradável, o qual lembra muito alguns sons do primeiro álbum do Slayer. Acredito que essa música foi composta ou para ser a última do álbum inicialmente, ou para enganar o ouvinte fingindo que o álbum estava acabando, pois o fim da música tem aquele noise instrumental clássico de encerramento.
Quanto à última faixa, “I.P.F.S“, não compreendi na verdade qual era seu objetivo. Uma faixa instrumental de menos de 2 minutos com algo como uma gravação de desenho animado no final da qual não entendi a referência. Não é uma faixa que atrapalha o álbum, só é uma faixa sem sentido nenhum.
No fim das contas, o álbum “The Ultra-Violence” não coloca o Death Angel no patamar das grandes bandas que estavam surgindo (e que citei na matéria) como Metallica e Slayer, mas se mostra um álbum que faz o que pode dentro desse estilo ainda em crescimento que era o Thrash Metal em 1987. Fiz inúmeras comparações com as bandas citadas acima, pois nesta época estas bandas já tinham fama, mas ainda estavam dando seus primeiros passos, criando sua identidade para o mundo, então eram boas referências que não estavam tão distantes da realidade dos jovens do Death Angel. Acho que o destaque da banda fica pela idade dos membros, pensar que um álbum de qualidade técnica e com uma certa criatividade como “The Ultra-Violence” foi composto por garotos entre 14 e 19 anos é simplesmente incrível e é de fato algo a se levar em conta.
Considerando que eram todos tecnicamente adolescentes, era o primeiro álbum e eram os primeiros anos do Thrash Metal, entende-se facilmente a razão de “The Ultra-Violence” ser considerado um clássico do estilo. Eu não vejo nada de impressionante na sonoridade, mas estou ouvindo-o em 2020. Tenho certeza que se eu ouvisse esta obra em pleno 1987, eu teria uma visão completamente diferente. Desta forma, recomendo este álbum para todo fã de Thrash Metal que queira conhecer algo que esteja fora do consagrado Big Four e do Big Teutonic Four (o Big Four alemão). Uma curiosidade interessante sobre o álbum é que seu título provavelmente é uma referência ao icônico “Laranja Mecânica” de Stanley Kubrick (adaptado do romance de mesmo nome de Anthony Burgess), sendo um termo citado na obra.
Tracklist:
1- Thrashers
2- Evil Priest
3- Voracius Souls
4- Kill As One
5- The Ultra-Violence (instrumental)
6- Mistress of Pain
7- Final Death
8- I.P.F.S
Formação:
– Mark Osegueda (Vocais)
– Rob Cavestany (Guitarra solo, backing vocals e mixagem)
– Gus Pepa (Guitarra base)
– Dennis Pepa (Baixo e backing vocals)
– Andy Galeon (Bateria e mixagem)
Músico adicional:
– Arnie Tan (Percussão)
Produção:
– Davy Vain (Produção)
– Dennies Hulett, Warren Dennis (Engenheiros)
– Ron Goudie (Mixagem em “George Tobin Studios”, Hollywood)
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9/10