Em 1980 o Black Sabbath ressurgiu com “Heaven And Hell”, o álbum de estreia de Ronnie James Dio no posto antes ocupado por Ozzy Osbourne. O disco fez muito sucesso, emplacando o 9º lugar nas paradas britânicas e 28º nas americanas. A transição para “Mob Rules” foi marcada pela saída do então sempre presente baterista Bill Ward, que precisou se afastar da banda por problemas de saúde ainda na turnê de “Heaven And Hell” e Vinny Appice foi recrutado para seu lugar.
Para as gravações do 10º disco, o Black Sabbath se reuniu no “Record Plant”, em Los Angeles e, tal como o álbum anterior, voltou a contar com a produção de Martin Birch. As letras foram todas compostas por Dio, que dividiu a autoria musical com Tony Iommi e Geezer Butler.
“Mob Rules” teve lançamento oficial em 4 de outubro de 1981 e rendeu dois singles, a faixa-título e “Turn Up The Night”, de 1981 e 1982, respectivamente. As músicas “Voodoo”, “Sign Of The Southern Cross”, “E5150” e “The Mob Rules” fizeram parte do set list da turnê de promoção do álbum.
A tour de “Mob Rules” foi cheia de percalços para o Sabbath, que teve vários shows cancelados por problemas dos mais diversos. Alguns envolviam tempestades de neve, outras apresentações não aconteceram simplesmente por causa das más condições dos locais onde a banda iria tocar. Além disso, ainda houve alguns contratempos com os integrantes, principalmente Vinny Appice e Tony Iommi. Para contornar a má fase, o grupo gravou alguns shows da turnê americana para lançar o álbum duplo ao vivo “Live Evil” em dezembro de 1982.
A banda sempre adiava o lançamento de um disco ao vivo para se dedicar mais aos álbuns de estúdio. “Live Evil” foi considerado o primeiro trabalho deste tipo da banda, mesmo já tendo lançado “Live At Last” em 1980. Isso porque este disco havia sido considerado pelo Black Sabbath como um bootleg não oficial, já que os membros não autorizaram o lançamento, que acabou acontecendo na época porque o então manager da banda Patrick Meehan tinha os direitos das gravações. Este “bootleg” só foi aprovado pelo grupo 30 anos depois.
As consequências do lançamento de “Live Evil” foram as saídas de Ronnie James Dio e Vinny Appice. Esta época foi tida pelo baixinho como a mais depressiva da sua carreira, pois Tony Iommi e Geezer Butler estavam descontentes com o modo que Dio se relacionava com a banda, além de outros problemas internos que envolviam inclusive créditos sobre composições do álbum “Heaven And Hell”. Iommi e Butler diziam que o vocalista era autoritário demais com o grupo e eles também achavam que Dio usava o seu período no Sabbath para promoção de seu futuro trabalho solo.
Há quem diga que a capa de “Mob Rules”, autoria de Greg Hildenbrandt, contém uma mensagem subliminar direcionada ao então ex-vocalista Ozzy Osbourne. A imagem utilizada para ilustrar o disco é uma tela que se chamava “Mob Dream” e foi pintada pelo próprio Greg Hildenbrandt nos anos 1970. O Black Sabbath teve autorização para usar a ilustração e posteriormente começaram as teorias.
A mensagem que vários fãs alegaram ver estaria na parte inferior direita da capa, perto do nome do artista. Veja a imagem abaixo com a mensagem destacada:
Existem boatos também que o Black Sabbath pediu uma mudança na imagem, mas a própria banda nunca confirmou.
O álbum começa com a empolgante “Turn Up The Night”, que tem uma levada bem interessante com a guitarra, baixo e bateria. Ronnie James Dio mostra bastante competência no vocal, mantendo a boa fase do álbum anterior. O refrão é bem cativante e gruda na mente com muita facilidade. Outro ponto que chama a atenção é o baixo de Geezer Butler, que é extremamente preciso em suas notas. Tony Iommi despeja qualidade em seus solos. Resumindo, “Turn Up The Night” tem toda cara de um clássico.
A próxima é uma das mais conhecidas do disco. “Voodoo” começa com a guitarra cadenciada aliada ao baixo. A dupla Tony Iommi e Geezer Butler tem uma química excelente no Black Sabbath e esta é a prova. Dio continua mostrando porque é um dos vocalistas mais aclamados da história do Heavy Metal. Os solos de Iommi são um melhor que o outro, e isso é apenas o começo do disco. “Voodoo” segue até o fim em uma levada mais cadenciada.
“The Sign Of The Southern Cross” inicia mais leve que as anteriores, somente com violão e a voz de Ronnie James Dio. A bateria de Vinny Appice logo muda o andamento junto com a guitarra de Iommi. A música tem um ar mais denso que as outras, mas isso não compromete a qualidade do álbum, pelo contrário. A bateria aparece mais na reta final e o solo e riffs de Tony Iommi falam por si sobre o talento deste grande guitarrista.
“E5150” é uma faixa instrumental que tem como grande destaque um curto solo de guitarra no final. O nome da música é uma forma de escrever “EVIL” utilizando algarismos romanos (5 = V, 1 = I e 50 = L). Em seguida vem a faixa-título. “The Mob Rules” já chega empolgante. É uma típica música que dá para imaginar em uma performance ao vivo com todo mundo pulando o tempo inteiro. Toda a banda tem seus momentos, mas é a dupla Tony Iommi e Ronnie James Dio que comanda por aqui. O guitarrista destila seus poderosos riffs enquanto o baixinho mostra toda a potência e agressividade de sua voz. É de tirar o fôlego.
“Country Girl” dá uma acalmada nos ânimos com um andamento mais arrastado. A letra é uma dedicatória de Dio à sua esposa, Wendy. Vinny Appice consegue se sobressair um pouco mais em relação às faixas anteriores emplacando algumas viradas na bateria, principalmente. Em todas as músicas a dupla Iommi e Dio deixa sua marca.
A próxima é “Slipping Away”. A sétima faixa é a mais fraca do disco, mas tem alguns momentos interessantes, como as viradas de bateria de Vinny Appice, os solos de guitarra de Tony Iommi e um solo curto de baixo de Geezer Butler. E dizer que Ronnie James Dio é um grande vocalista chega a ser pleonasmo.
Em seguida temos “Falling Off The Edge Of The World”. A penúltima faixa de “Mob Rules” tem um clima todo particular, com o baixinho cantando praticamente sem acompanhamento. Logo entra a rifferama vinda da guitarra de Tony Iommi e a música ganha outra cara. Mais um grande solo nos espera no meio dela. A faixa tem uma levada bem empolgante e pode ser apontada sim como uma das melhores do álbum.
“Over And Over” tem todo o clima mais denso que o Black Sabbath gosta de passar, principalmente na época do então antigo (e agora atual) vocalista Ozzy Osbourne. É mais uma faixa arrastada e que tem como pontos mais altos a bateria de Vinny Appice e, mais uma vez, outro dos grandiosos solos de Tony Iommi. É impossível ouvir algum dos melhores álbuns do Black Sabbath sem perceber o quão incrível é o seu guitarrista, um dos maiores, senão o maior riffmaker da história da música pesada.
“Mob Rules” é, sem dúvida, um dos melhores álbuns da discografia do Black Sabbath. O segundo disco gravado na “Era Dio” nos ajuda a entender porque Tony Iommi é um grande guitarrista e, mais que isso, prova que, ao menos musicalmente, a banda havia deixado para trás a época mais conturbada que viveu até aquele momento e deu a volta por cima.
Formação:
Ronnie James Dio (R.I.P. 2010)(vocal);
Tony Iommi (guitarra);
Geezer Butler (baixo);
Vinny Appice (bateria).
Faixas:
01 – Turn Up The Night
02 – Voodoo
03 – The Sign Of The Southern Cross
04 – E5150
05 – The Mob Rules
06 – Country Girl
07 – Slipping Away
08 – Falling Off The Edge Of The World
09 – Over And Over
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8/10