Se mesmo atualmente o impacto da imagem permanece, podemos imaginar como deve ter sido em 1971. A capa com o close da jibóia sibilante, por cima de um fundo vermelho, enfatiza a promessa de algo tenso, carregado de ameaça e perigo…
A promessa é efetivamente cumprida. “Killer” é, ainda hoje, um dos momentos mais altos dentro de uma carreira repleta deles. Naquele mesmo ano, a Alice Cooper Band já havia realizado a virada de jogo representada pelo disco “Love It To Death”, que definiu a personalidade da banda a partir de então, distanciando-se da psicodelia nonsense e lisérgica dos dois primeiros álbuns.
Não havia como esperar por menos, pois a formação que criou estes trabalhos era afiadíssima e com um entrosamento ímpar, onde eu não posso deixar de registrar o destaque para o baixista Dennis Dunaway, onipresente ao longo das canções, com linhas cheias e cativantes.
Falar de uma música como “Under My Wheels” é um exercício desnecessário, pois é um dos clássicos obrigatórios da longa discografia de Alice Cooper e já inicia o disco arrastando-o para o cume de nossas preferências. Já se vão quase cinquenta anos da data de sua criação, mas ela continua com o frescor de algo atual, permanecendo considerada como uma das melhores faixas de abertura desde sempre. Caso estivesse em algum dos mais recentes lançamentos de Alice, encontraria-se em perfeito paralelo com o padrão de sua produtividade atual. Na sequência, surge a também clássica “Be My Lover”, logo seguida por “Halo of Flies”, com seu começo maravilhosamente sinistro e pertubador. A canção é repleta de variações e mudanças em seus oito minutos e vinte segundos, numa assumida tentativa de demonstrar que poderiam realizar suítes de Rock na linha de bandas como o King Crimson, sem pender para o Progressivo, naturalmente, mas com resultados além de satisfatórios.
O palco, como espaço físico, é um elemento intrínseco da personalidade artística de Alice Cooper, ampliando a significância de cada verso cantado através da atuação teatral do cantor. No entanto, o contato meramente auditivo das canções consegue transmitir as emoções e sensações desejadas, independente da experiência visual.
Até chegar em “Desperado”, que Alice afirma ter sido feita como homenagem ao amigo falecido, Jim Morrison, o disco mantém-se em uma constante criativa, que oscila brevemente nas duas composições seguintes, “You Drive Me Nervous” e “Yeah, Yeah, Yeah”. São boas canções de Hard Rock, mas levemente aquém do nível atingido no restante. “Dead Babies” tem resultados que equiparam-se aos de “Halo Of Flies”, em termos de clima e dramaticidade. É um momento assustador que já foi, inclusive, coverizado pelo grupo americano de Metal Tradicional, Iced Earth, no álbum “Tribute To The Gods”. A música que nomeia o disco está ao final e encerra adequadamente este capítulo essencial da história do Rock, estabelecendo os alicerces de um artista líder na utilização dos elementos teatrais e que gerou uma constelação de seguidores – e imitadores – de seus ensinamentos. Ainda não foi superado e, nem sequer, igualado. A maquiagem icônica representa o mais temível mestre de cerimônias do Rock’n’Roll!
Formação:
Alice Cooper (vocal);
Glen Buxton (guitarra);
Michael Bruce (guitarra);
Dennis Dunaway (baixo);
Neal Smith (bateria)
Músicas:
01. Under My Wheels
02. Be My Lover
03. Halo of Flies
04. Desperado
05. You Drive Me Nervous
06. Yeah, Yeah, Yeah
07. Dead Babies
08. Killer
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9/10