“Stream of Consciousness” é o terceiro trabalho dos italianos do Vision Divine e é daqueles álbuns que precisam ser ouvidos com atenção e repetidas vezes para poder reconhecer o seu devido valor. O disco marca a estreia do talentosíssimo vocalista Michele Luppi, que entrou no lugar de nada mais, nada menos que Fabio Lione (Rhapsody of Fire e atualmente no Angra) que, antes de sair da banda, ajudou na composição de sete músicas, entre elas “The Fallen Feather” e a clássica “La Vita Fugge”.
De forma geral, “Stream of Consciousness” faz uma viagem ao subconsciente de um personagem atormentado por vários tipos de problemas, frustrações e questionamentos que qualquer pessoa que der uma lida nas traduções das letras pode se identificar.
E para começar, nada melhor que uma introdução que ambienta o ouvinte na história que será contada. Este é o papel da curtíssima “Stream of Unconsciousness”, cuja letra fala sobre o preço pago pelo personagem por tentar buscar uma verdade e acabar perdendo sua sanidade mental no processo.
A faixa seguinte é a continuação da anterior. “Secret of Life” já dá o tom do álbum e prova o talento de Michele Luppi nos vocais. A voz dele encaixou bem com o Vision Divine e isso se tornará mais perceptível nas próximas faixas. O instrumental é excelente, tornando difícil de destacar apenas um músico, mas Olaf Thorsen (guitarra) e Matteo Amoroso (bateria) têm grandes performances, além de Andrea Torricini (baixo) e Oleg Smirnoff (teclado), que também merecem atenção. Em “Secret of Life”, o personagem está procurando um sentido para a sua própria vida enquanto enlouquece.
Emendando com a anterior, começa a instigante “Colours of My World”. Olaf Thorsen abre com um belo solo de guitarra e Michele Luppi deita e rola na interpretação vocal. A base é praticamente toda composta pelos teclados de Oleg Smirnoff. O refrão é bem marcante. O baixo segue o ritmo da guitarra, deixando a música mais potente e consistente.
A seguir temos a grande sequência do disco. “In The Light” é a introdução da bela “The Fallen Feather”, que tem um dos melhores refrões do álbum. Olaf Thorsen e Oleg Smirnoff fazem um belíssimo trabalho instrumental enquanto Michele Luppi segue afiado em seu excelente desempenho vocal. Nesta etapa da história, um anjo caído começa a agir como voz da razão enquanto o personagem se questiona mais uma vez sobre sua vida.
Como parte da melhor sequência do disco, “La Vita Fugge” é o puro e simples Power Metal e o ponto mais alto de “Stream of Consciousness”. A dupla Olaf Thorsen e Oleg Smirnoff se mostra ainda mais calibrada que nas faixas anteriores e o excelente baterista Matteo Amoroso finalmente tem um maior destaque. Os solos de guitarra e teclado são espetaculares, mas é Michele Luppi quem rouba a cena com seu fôlego excepcional ao segurar o trecho final “I’ll always be late” durante 18 segundos. A letra de “La Vita Fugge” mostra um personagem arrependido de suas ações do passado.
A serena “Versions of The Same” fecha a melhor sequência do disco. Mais uma vez a dupla Olaf Thorsen e Oleg Smirnoff mostra entrosamento, com direito a mais um belo solo de guitarra de Thorsen. “Through The Eyes of God” dá uma leve destoada do álbum, com mais um bom trabalho do guitarrista, mas a faixa se torna muito arrastada e não empolga.
Em “Shades” o personagem tem lampejos da própria vida. Passado e futuro, lado a lado, se esvaindo, tal como o anjo que seria sua consciência. A faixa muda de ritmo o tempo inteiro, alternando as bases cadenciadas com o refrão acelerado. Uma mescla muito bem feita, tornando “Shades” até certo ponto diferenciada das outras.
A próxima, “We Are, We Are Not”, também é mais arrastada, tal como “Through The Eyes of God”. E assim como na outra, esta tem mais destaque da guitarra. O personagem se dá conta de que o que está feito não pode se desfazer e nada o impedirá de enlouquecer. Restando apenas pedir ajuda para fugir daquela situação (e do hospício onde está internado).
Duas faixas instrumentais, “Fool’s Garden” e “The Fall of Reason”, precedem “Out of The Maze”. A penúltima música do álbum é mais pesada e cheia de riffs de guitarra. O refrão é um dos mais grudentos do disco e o solo de guitarra de Olaf Thorsen é um dos melhores do trabalho. Neste ponto da história, o personagem finalmente está livre do hospício onde estava internado e deixa seu futuro a cargo do destino.
A bela “Identities…” fecha “Stream of Consciousness” relembrando as duas primeiras músicas, a introdução “Stream of Unconsciousness”, e “Secret of Life”, mas com características próprias, quase como uma continuação. Michele Luppi e Olaf Thorsen se sobressaem, cada um à sua maneira. Agora o personagem segue sua vida e encontra a paz interior.
“Stream of Consciousness” é um belo trabalho conceitual e o melhor disco do Vision Divine com Luppi nos vocais. O então recém-chegado integrante deixou muitas opções de sonoridade à banda, que parecia meio quadrada com o então antigo (e agora atual) vocalista, Fabio Lione, embora ele tenha composto parte do disco antes de deixar a banda. O terceiro trabalho do Vision Divine é recomendadíssimo para quem gosta de álbuns conceituais e, principalmente, quem é fã de Power Metal.
Formação:
Michele Luppi (vocal);
Olaf Thörsen (guitarra);
Andrea “Tower” Torricini (baixo);
Matteo Amoroso (bateria);
Oleg Smirnoff (teclado).
Faixas:
01 – Chapter I: Stream of Unconsciousness
02 – Chapter II: Secret of Life
03 – Chapter III: Colours of My World
04 – Chapter IV: In The Light
05 – Chapter V: The Fallen Feather
06 – Chapter VI: La Vita Fugge
07 – Chapter VII: Versions of The Same
08 – Chapter VIII: Through The Eyes of God
09 – Chapter IX: Shades
10 – Chapter X: We Are, We Are Not
11 – Chapter XI: Fool’s Garden
12 – Chapter XII: The Fall of Reason
13 – Chapter XIII: Out of The Maze
14 – Chapter XIV: Identities…