Eu imagino que, na cabeça de cada integrante de uma banda underground, deve passar vez por outra um lampejo de pensamento do tipo “o que é que eu estou fazendo?”. Aquela pequena pergunta retórica que ocorre para tentar entender porque se continua a “bater cabeça”, nos dois sentidos da expressão.
Veja a Ossos, por exemplo: vinte anos de existência, integrantes entrando e saindo movidos a desânimo, diferenças ou questões pessoais, prejuízo por perda de equipamento…. Tudo conspirando para a derrocada… mas não é assim que a coisa funciona!
Bate-se cabeça porque esse movimento nasce de uma faísca interior que não nos permite estacionar no estado de repouso. Bate-se cabeça porque esse movimento é gerado por atitude e convicção e não por elementos sazonais como fama ou sucesso comercial. Há uma meta a ser atingida e as dificuldades apenas farão com que o gosto da conquista seja mais saboroso. Esses Ossos já estão calcificados e não se partem facilmente! “O Caos Em Mim”, seu primeiro álbum, é o objeto que demonstra ter sido válido o ideal de “vamos seguir em frente” depois de cada revés.
O EP “Músicas de Funeral”, de 2016, já oferecia uma prévia e três de suas cinco faixas foram aproveitadas para o álbum. A parte instrumental do início de “Novela Principal”, música de abertura do trabalho, avança como se fosse um Slayer antigo onde a veia Hardcore fosse mais acentuada, demonstrando que a banda acomoda-se tranquilamente dentro do universo Crossover. A pegada agressiva não dispensa a condução segura do ritmo e nem a técnica bem aplicada, como nas inserções dos solos de guitarra curtos e bem pensados.
O vocalista Pezzi acrescenta identidade a cada faixa, explorando o teor crítico de cada uma das letras, todas em português com exceção de “Amputee My Dreams”, que não fica para trás em termos de excelência e vibração. Apesar da homogeneidade do repertório, alguns destaques são necessários. “Músicas de Funeral” tem uma levada irresistível, daquelas que parecem conter a palavra mosh escrita em cada acorde. “Vitrine de Satan” possui um refrão simples e eficiente que chega a lembrar o tipo de composição que se fazia em nosso país no começo da década de 80.
A qualidade sonora de “O Caos Em Mim” revela-se em nível satisfatório, com todas as partes bem equalizadas e presentes, acentuando o peso e a sujeira. “Criador”, última faixa, confirma essa percepção e é certamente o ponto culminante do repertório, onde a passagem de um riff pro outro vai apenas deixando a composição cada vez melhor.
É gratificante perceber o significado de um disco para além das músicas nele contidas. O underground tem várias dessas histórias para contar e, caso você se enquadre naquele cenário em que desistir parece ser a melhor solução, lembre-se que os Ossos em seu corpo estão lá para que você permaneça em pé!
Músicas
01 Novela Principal
02 Caos em Mim
03 Músicas de Funeral
04 Imagens de Horror
05 Vitrine de Satan
06 Controlados
07 Vírus
08 Amputee My Dreams
09 Nasce Minha Solidão
10 Criador
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8.5/10