A Dinamarca, não era um país com grande tradição em Heavy Metal, ao contrário dos gigantescos mercados americano e inglês, reforçados posteriormente pela emergente Alemanha. Sua própria posição geográfica, entre o território germânico e os demais países do bloco escandinavo, evidencia, em parte, um grau de distanciamento necessário para a formação do som de bandas com personalidade própria: de um lado, a fronteira com um país que vinha crescendo em tradição metálica – carregada de melodia – e, de outro, a proximidade com Suécia e Noruega, que viriam a gerar, no futuro breve, um grande levante de bandas de Death e Black Metal.
Talvez por isso, a música do Mercyful Fate soou tão distinta quando surgiu para o mundo. Junto com o Pretty Maids, ambos foram os primeiros grandes expoentes do Metal naquele país, em 1983, mas ao contrário deste último, cujo som navegava em ondas mais tradicionais, as composições do Mercyful Fate tinham um punch diferenciado, soando completamente diferentes de qualquer outra banda do cenário. Mesmo que as influências fossem identificáveis, o Mercyful Fate fazia-se absolutamente único, apresentando uma musicalidade que era tão intrincada quanto cativante. Se o Judas Priest se tornou um gigante – quando em 1980 deixou sua música mais direta – com o álbum “British Steel”, o Mercyful Fate rumou em sentido contrário, carregando sua música com inúmeros riffs, mudanças de andamento, variáveis tantas que, por si só, já chamariam atenção, mas foram amplificadas pelo efeito vocal único – e até hoje inimitável – de King Diamond. O que King fez não tinha precedentes e, da mesma forma, não tem imitadores. Ninguém nunca se arriscou a tentar expor alguma influência de seu vocal. Não naquele nível e, pelo jeito, deve permanecer assim.
Tudo isso, que já seria suficiente para trazê-los aos holofotes, ainda foi reforçado pelas letras satânicas, com aprofundamento e desenvolvimento mais elaborado do que era até então praticado. Infelizmente a banda implodiu após o segundo – e igualmente perfeito – disco e, quando resolveu retornar, teve que amargar um desmerecido segundo lugar nas prioridades de carreira de King Diamond, que obteve mais sucesso de mercado com seu projeto solo autointitulado. Terminar depois do segundo disco, porém, foi vital para que a banda obtivesse o status de cult, de lenda, que hoje detém.
Embora King Diamond receba uma merecida parcela de evidência, é necessário que seja dado um igual destaque para o guitarrista Hank Sherman, afinal ele compôs todas as faixas do álbum, cabendo a King a inserção das letras. Hank Sherman e o também guitarrista Michael Denner, precisaram de apenas dois discos para marcarem seus nomes entre as principais duplas de guitarra do Heavy Metal, em um universo restrito onde trafegam membros do Iron Maiden, Judas Priest, Helloween e poucos outros.
O disco “Melissa” é tão primoroso que, por mais que eu queira, vou evitar mencionar o nome de qualquer uma das canções, pois não há como estabelecer distinções aqui. Tudo é concebido e executado com inspiração extrema. Tão extrema quanto os temas abordados e o maravilhoso contraste que estes causam em meio à tanta complexidade musical e performance. Sendo uma bruxa, teria Melissa realizado feitiço mais poderoso do que aquele que perpetuou o seu nome e poder no futuro que é o nosso presente?
Formação
King Diamond – vocal
Hank Shermann – guitarra
Michael Denner – guitarra
Timi Hansen – baixo
Kim Ruzz – bateria
Músicas
01 Evil
02 Curse of the Pharaoh
03 Into the Coven
04 At the Sound of the Demon Bell
05 Black Funeral
06 Satan’s Fall
07 Melissa