O legal da história do Magnum é que parece daquelas bandas em que os caras estão tocando de boa e as coisas vão acontecendo. Eles começaram em 1972 tocando num clube de Birmingham chamado Rum Runner. O Clarkin e o Dave Morgan fizeram um trabalho para a construção do Nest Studio e pediram o pagamento em horas de estúdio. Ali eles gravaram uma demo que rendeu um contrato com a Jet Records. Seu primeiro álbum “Kingdom of Madness” foi lançado em 1978, e eles se mantiveram na ativa até 1995, fazendo tours com Judas Priest, Whitesnake, Blue Öyster Cult e umas datas com Ozzy Osbourne. Depois de um período um pouco conturbado para a banda, em 1985 eles assinaram com a Polydor Records que finalmente levou a banda a alçar novos voos, abrindo o Monsters of Rock em agosto daquele mesmo ano. Período produtivo para Magnum, mas com um alto custo na criatividade, segundo Tony Clarkin. “Durante a década de oitenta, a gravadora que estávamos na época queria que soássemos o mais pop possível, porque eles esperavam melhores vendas de álbuns. Eu costumava odiar isso, apesar do sucesso que tivemos.”, disse o guitarrista.
Em 2001 eles retornaram as atividades e desde 2002 tem uma média de lançamento a cada dois anos. “The Serpent Rings” foi lançado em janeiro de 2020 e deixou a mente responsável pela criatividade do Magnum muito satisfeita, porque eles finalmente puderam dar um tom a mais de rock no trabalho. “Graças à nossa atual gravadora, desfrutamos de total liberdade artística”, entusiasma-se Clarkin. A diferença de sonoridade é mais notável entre os álbuns “Rock Art”, de 1994, e “Breath of Life” lançado em 2002, que soa um pouco mais experimental, normal para um hiato de oito anos. “The Serpent Rings” traz a estreia do baixista Dennis Ward, no lugar de Al Barrow, que estava na banda desde 2001. Entre seus projetos estão o Pink Cream 69, Place Vendome, Unisonic, mas também trabalhou como produtor com Angra, Allen-Lande e Helloween.
“Where Are You Eden?” é uma boa faixa de abertura. A introdução dela é melódica e crescente, culminando numa virada da bateria para a mudança de ritmo. A música é boa, mas o vocal de Catley parece não acompanhar o resto da banda. A proposta parece ser um vocal mais arrastado, mas faltou arriscar um pouco mais, para o contraste com o ritmo soar harmônico. Desse jeito parece não ir nem para um lado, nem para outro, ou seja, não acompanha a melodia e nem contrasta com ela. Não que só existam essas opções, mas a questão aqui é o vocal parece deslocado do resto da música. Já em “You Can’t Run Faster Than Bullets” tudo funciona muito bem e é um dos pontos altos do álbum. “Madman or Messiah” fala sobre pessoas que tem a capacidade de arrecadar outros diante de suas crenças, para o bom ou ruim. “Louco ou messias / Se ele ficar dentro da sua cabeça / Aquela casa do desejo / Cuidado para não ser enganado”, interessante que a letra não julga entre certo e errado, mas procura ficar neutra diante dos fatos. “Você precisa abordar esses tipos de gurus com muita cautela, porque, na realidade, eles levam seus seguidores para passear e, na pior das hipóteses, até os seduzem a realizar atos dúbios, como é o caso de Charles Manson no shows da década de 1960.”, disse Clarkin. “The Archway of Tears” é uma música até que bem feita, mas sabe aquela sensação de que falta alguma coisa?
Se “Not Forgiven” viesse com uma descrição seria fórmula do hard rock no auge, mas sem os refrãos grudentos. Aliás, muito pelo contrário, o refrão é um pouco mais lento e pesado e muito consistente. “The Serpent Rings” é o tipo de música que exige que você pare e escute. “’The Serpent Rings’ começou como uma história de ficção científica, mas continuou a evoluir ao longo do tempo e até apresenta um lado um pouco bizarro hoje. Eu descreveria a música como um conto de fadas misterioso e um tanto assustador.”, disse o guitarrista. Ela é muito trabalhada e complexa se tornando quase uma ode moderna, se é que podemos chamar assim. Mas se você não gosta de nada muito melódico, pode pular e ir para “House of Kings”. A sétima música do álbum é mais pesada e tem uma pegada mais rock. “The Great Unknown” é a música lenta do álbum, com uma letra poética e clima de esperança, ainda que fale da escuridão da noite. “Man” é daquelas que surpreende, começa com um sintetizado e uma linha de teclado bem com cara de anos 80, mas lá pelos 40 segundos acaba misturando os sons, passa por uma vibe anos 90 e se transforma em outra coisa. “The Last One on Earth” é outro ponto alto do disco. “Crimson on the White Sand” é uma boa música e combina com a vibe do álbum, ela é bem feita e harmônica.
Para deixar os ouvidos abertos: “You Can’t Run Faster Than Bullets”, “The Last One on Earth”, “House of Kings”, “Man”.
Para a capa de “The Serpent Rings”, o ilustrador britânico repetiu a dobradinha dos álbuns anteriores. Rodney Matthews contou, em seu site, sobre a criação da arte, que, a pedido de Tony, consistia no guerreiro ajoelhado com a espada, e os falsos profetas. Ele explicou que os quatro pilares representa a Terra, com quatro cantos e também os quatro elementos. “Eu também queria incluir um elemento adicional, o quinto elemento de Aristóteles – ‘Aether’ (éter). Este símbolo extra, ‘AE’ é representado no anel externo da frente do círculo de ‘iniciação’ no qual o Narrador está ajoelhado, oferecendo sua espada e compromisso.”, disse o artista. A serpente também entrou na onda do número quatro, com essa mesma quantidade de anéis no pescoço. “A serpente que olha fixamente tem quatro anéis em volta do pescoço e sua língua bifurcada cintilou à vista. A própria língua (juntamente com a cobra) é universalmente reconhecida como a metáfora da mentira. Na minha opinião, as mentiras mais convincentes são aquelas que incluem uma medida da verdade para tornar a mensagem palatável; portanto, um lado da língua bifurcada é azul pela verdade e o outro vermelho pela mentira (ou vice-versa!).”, explicou Matthew.
Tracklist:
1. Where Are You Eden?
2. You Can’t Run Faster Than Bullets
3. Madman or Messiah
4. The Archway of Tears
5. Not Forgiven
6. The Serpent Rings
7. House of Kings
8. The Great Unknown
9. Man
10. The Last One on Earth
11. Crimson on the White Sand
Formação:
– Bob Catley (vocal)
– Tony Clarkin (guitarra)
– Dennis Ward (baixo)
– Rick Benton (teclado)
– Lee Morris (bateria)
-
8.5/10