Existir bandas como o Heryn Dae no Brasil é uma lufada de ar fresco em nosso cenário. De certo que temos um imenso rol de bandas que trafegam, em sua maioria, ou pelos estilos mais extremos, ou, por outro lado, que preferem desenvolver uma linha com bastante ênfase na melodia – e é ótimo que seja assim – mas algumas investidas fora dessas polarizações sempre serão bem vindas.
O Heryn Dae foi formado em 2013, na cidade de São Francisco do Sul, situada na parte norte do estado de Santa Catarina, e seus integrantes, o vocalista Victor Moura, o guitarrista Juliano Bianchi, o baixista Ricardo Bach e o baterista Cristiano Pereira são todos veteranos de outras bandas na região. A música que desenvolveram, e que foi registrada em seu primeiro e autointitulado disco, lançado em 2016, é o Heavy Metal tradicional, mas não aquele mais básico e direto de bandas como Saxon ou Grim Reaper. O Heryn Dae se baseia na sonoridade de grupos que exploraram a utilização de texturas progressivas dentro do metal, tal qual Iron Maiden, Queensryche, Judas Priest dos primeiros álbuns e, principalmente, Savatage, priorizando, em seus arranjos, mais a melodia e os climas do que a velocidade, que até que é utilizada, mas em doses homeopáticas, apenas para pontuar a temática de algumas das canções, tudo através de faixas que utilizam diversas variações em seus andamentos.
Um disco dessa natureza necessita de uma produção apurada para captar adequadamente a performance dos músicos e, se no presente caso, isso não foi atingido com o grau de excelência desejável, também não compromete o resultado e não prejudicará a fruição do disco. O trabalho foi concretizado através da captação efetuada no 2K Studio, na cidade natal da banda, com o produtor Kelwin Grochowicz, que também foi o responsável pelos teclados na gravação, complementando a melodia e o peso dos arranjos sobre os quais Victor Moura pode deixar fluir sua capacidade interpretativa, recitando as letras de sua própria autoria, em cima do instrumental. Seja na dramaticidade dos versos da introdução “March To Die” ou na agressividade do refrão de “Death”, com uma rítmica que lembra algo próximo ao Grave Digger, tudo soa épico na medida do desejável, sem aqueles arroubos cansativos que, em alguns casos, tornam caricato o trabalho de alguns grupos.
A arte gráfica do cd está muito bem cuidada e a ilustração da capa é abstrata o suficiente para embalar tanto as canções de fantasia literária quanto as de temáticas religiosas, como a que está expressa de forma bem enfática em “Kings Of The Anarchy”. Músicas como “Final Fantasy”, “Heryn Dae” e “Evil Fortress” se destacam, mas em cada uma das demais há algum riff, algum verso ou passagem que chamará a atenção do ouvinte. É certo que, dificilmente, um álbum de estréia, de uma banda independente, irá acertar todos os alvos necessários, mas pode-se dizer que o Heryn Dae teve um bom começo e espero que, tal qual os elfos que inspiraram seu nome, possa ter uma carreira longeva e agregue as experiências obtidas para a sua própria evolução.
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8/10