Felizmente, passo a passo, a história da música pesada brasileira vem sendo contada e disponibilizada para o acervo de velhos e novos fãs do estilo. Há muito que isso já é feito – e continua sendo – através de livros e revistas, mas os últimos anos tem visto surgir a narração da trajetória de nosso gênero musical favorito em mídias audiovisuais. Korzus, Ratos de Porão, Brasil Heavy Metal, Vulcano e a existência da loja Woodstock, em São Paulo, são alguns dos documentários que estão disponíveis no mercado, e ainda estão chegando por aí as narrativas sobre o Sepultura, a revista Rock Brigade, os cenários de Heavy Metal dos estados de Pernambuco e Piauí, além de outras iniciativas.
A mais recente jóia preciosa que engrandece esse clube é “Guerrilha – A Trajetória Da Dorsal Atlântica”, um projeto que nasceu com o intuito de registrar o retorno da formação clássica da banda carioca, para a gravação do álbum “2012”, mas que acabou tomando outros rumos e resolveu falar sobre a existência da banda, de forma mais ampla…
Tendo sido desenvolvido através de recursos obtidos por via de financiamento coletivo, o documentário ganhou vida em uma edição bem caprichada, numa embalagem com dimensões semelhantes as dos antigos compactos de vinil, acompanhada de um pôster e repleta de extras e entrevistas, além de vídeo clips, trechos de shows e um mini documentário, chamado “MMXII” que aborda alguns momentos da gravação do álbum de retorno e foi o ponto de partida para a realização do filme completo, conforme explanam os diretores Frederico Neto e Alexandre Aguiar, no livreto encartado na capa, que traz também depoimentos de outros integrantes da equipe de produção e de alguns jornalistas, falando sobre a experiência do filme e a relação de cada um com a obra da Dorsal.
Como qualquer coisa que envolve o nome dessa banda foge da convencionalidade, o filme não poderia ser diferente. Ele não começa com a estrutura padrão de como foi a formação da banda e demais detalhes do tipo. Nada daquela coisa de “a nossa família era assim” ou “nós conhecemos nosso baterista em tal lugar”. Não, o filme já inicia abordando momentos pertinentes a gravação e divulgação do primeiro disco, o split “Ultimatum” e segue daí pra frente, com muitas imagens de arquivo. A própria infância de Carlos Lopes só é mencionada rapidamente, em uma pungente cena, nos minutos finais do documentário.
No fim, não se trata exatamente de uma história da Dorsal, e os próprios diretores admitiram que não queriam reproduzir algo que já existia, na biografia “Guerrilha”, publicada por Carlos Lopes em 1999. Trata-se de uma história sobre o impacto, a importância e a influência da Dorsal sobre o cenário de Heavy Metal carioca e brasileiro. Sobre o que uma banda como aquela significou para todos nós, desde que surgiram até o seu fim, e como e sob quais condições houve o seu retorno.
Convicção é a palavra-chave ao longo de todo o filme. Convicção e relevância, no sentido de fugir de todos os estereótipos e oferecer algo ousado, em termos musicais e líricos. Eu não poderia dar, para o produto final, qualquer outra nota que fosse menor do que dez! Dez para o filme, para a banda, para sua obra e seu legado! Em uma das cenas do mini-documentário “MMXII”, Carlos Lopes diz que “música é pra me deixar nervoso”. E é assim! O que mais dizer? O Dorsal me deixa nervoso! E eu agradeço por isso!
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10/10