Marabá é uma das principais cidades do estado do Pará e, como tal, produz bandas relevantes para o cenário da música pesada brasileira. O Feios, Sujos e Malvados – cujo nome simplificaremos como FSM – entrega uma música que corresponde ao que se espera de uma banda com esse nome. Suas composições, apresentadas ao mundo pela primeira vez neste disco de 2017, não tem concessões com ritmos ou levadas mais acessíveis. São 14 momentos de peso, agressão e velocidade.
A simplicidade da capa antecipa a objetividade com a qual iremos nos deparar. Aos primeiros segundos de “Tortura”, o timbre da guitarra já lhe faz cerrar os dentes, preparando-o para uma faixa que transita entre o Groove e o Hardcore, enquanto que “O Contrato” investe no Thrash Crossover na linha Ratos de Porão, a influência mais nítida da banda e que poderá ser percebida em vários momentos do disco.
Outra coisa que pode ser logo percebida é a qualidade das letras. Cantadas em português, com a dicção de Noriel Biscoito bastante calcada em Max Cavalera, transitam por temas diversos no universo da psicopatia, buscando inspiração em séries, filmes ou quadrinhos, mas também na realidade, com destaque para “Holocausto Brasileiro”, que retrata fatos ocorridos em um manicômio em Minas Gerais.
Todo o trabalho é bastante coeso, não havendo composições que transpareçam estar aquém do nível geral estabelecido, mas permitindo apontar destaques como “O Mal”, “Mundo Sociopata” e “Narcoditadura”, capazes de desencadear rodas violentas de mosh. Se o andamento acelerado é a tônica destas, o clima marchante de “Olhos Que Tudo Veem” e as variações de “Ataque Perverso” – que lembra algo de Six Feet Under – garantem a diversidade oferecida pelo FSM.
Mesmo dentro desse contexto, as duas faixas do final merecem comentários à parte. Não há segredo sobre o significado de “DMTU”: trata-se da sigla do órgão fiscalizador do trânsito da cidade de origem da banda, cuja sanha arrecadadora encontra paralelo em vários outros municípios brasileiros. O refrão não poderia ser mais adequado! Já “O Feio” é uma adaptação da música “Vai Tomar no Cú”, da banda Ovos Presley, de Curitiba, cujo refrão pode arrancar algumas risadas, apesar do humor não ser a tônica da banda.
Tendo sido recentemente disponibilizado para as plataformas de música digital, o álbum “Tortura” vai ter o seu alcance ampliado como de fato merece. Enquanto seus criadores planejam e preparam a sequência, aproveite para ir conhecendo este ótimo trabalho, que nasceu na região Norte de nosso país, mas que já ultrapassou seus limites geográficos e tem tudo para prosseguir em irrefreada expansão.
Formação
Noriel Biscoito HC – vocal
Geraldo Capilé – guitarra
Mauro Cavera – baixo
Henrique Aranha – bateria
Músicas
01 Tortura
02 O Contrato
03 Retrato de um Psicopata
04 Justiceiro Ceifador
05 Olhos Que Tudo Veem
06 Ataque Perveso
07 Predador Sexual
08 O Mal
09 Holocausto Brasileiro
10 Castração Química
11 Mundo Sociopata
12 Narcodidatura
13 DMTU
14 O Feio
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8.5/10