No Heavy Metal dos dias de hoje parece haver uma busca desenfreada pela velocidade da luz em certas bandas ou estilos, como se a essência do Metal estivesse somente em ritmos ultrarrápidos ou em solos com mil notas por segundo. Esquece-se que o Heavy Metal surgiu sob o signo da cadência. Cadência tal que enfatiza o trabalho de guitarras, os riffs e as interpretações vocálicas. Prova disso são o Doom Metal oitentista, que Tony Iommi ensinou, e o Groove Metal nascido nos anos 90. Estilos eficientes e com identidade, que atestam o que aqui foi dito no que se refere à cadência. A banda Escória, da cidade de Contagem, MG, sabe disso. E pôs estes fatos em prática no seu EP de estreia, Fúria em Cadeia, lançado em 2016 de forma independente.
O Escória é formado por Derick Bauth (vocais), Jonas Barcelos e Gabriel Sousa (guitarras), Ramon Gonze (baixo) e David Moura (bateria). O som da banda mineira é empolgante e raivoso, moldado em cima de peso e groove, com influências que incluem Pantera e Slayer, com uma ou outra passagem pelo Doom. Cada música segue uma mesma fórmula de composição, todavia cada uma delas tem seu próprio destaque, sem dar a parecer que estamos ouvindo a mesma música o tempo todo.
Sons agressivos e raivosos caminham em andamentos lentos que se intercalam com algumas passagens mais rápidas, tudo muito bem emendado. Prova disso é a música O Filósofo, que em pouco mais de seis minutos mostra toda a competência e garra da banda, com seu peso e variações. Destaque também para Arte Nefasta: esta conta com um riff mais melódico e um ritmo mais tradicional, com uma bela passagem sem bateria no meio, e que deságua num ritmo empolgante e num solo inspirado. Ganhou até clipe.
Já o groove reina mesmo é na faixa-título, transparecendo as influências da banda de Dimebag Darrel, e no Doom Metal da lenta Falsa Simbiose. Vocais irados e letras dialogadas aparecem na boca do vocalista Derick Bauth, que fala de vários problemas da sociedade, lembrando a banda paulista Melanie KLAIN. Os solos de Jonas Barcelos são ousados e bem amparados pela guitarra-base de Gabriel Sousa, vide a faixa Luto, puro Slayer, todavia lento. A cozinha formada por Ramon Gonze e David Moura é a responsável pelos ritmos inteligentes que a banda executa com primazia.
O som é bastante sujo, carecendo de melhorias em próximos lançamentos do Escória, principalmente na timbragem da bateria de David Moura, que pode ganhar mais volume nos tons. Mas a sujeira favorece a proposta musical da banda e pode sim ser melhor trabalhada em estúdio. Musicalmente falando, a banda já mostrou bem o que se propõe a fazer, e massacrou no ouvido do fã que técnica, vontade e garra tem de sobra para espalhar suas letras e seu peso. Se continuar assim, é bem arriscado que o Escória esteja futuramente entre os principais nomes do Groove nacional.
Fúria Em Cadeia – Escória (independente, 2016)
Tracklist:
01. Fúria em Cadeia
02. O Filósofo
03. Arte Nefasta
04. Luto
05. Falsa Simbiose
Line-up:
Derick Bauth – vocal
Jonas Barcelos – guitarra solo
Gabriel Sousa – guitarra base
Ramon Gonze – baixo
David Moura – bateria
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8/10