Enquanto escrevo essa resenha, sobre o Volume 9 da coletânea produzida e distribuída pelo programa Roadie Metal, os volumes 10 e 11 já estão sendo preparados, cada um em uma fase diferente do processo, naturalmente, e estão sendo agraciados com a chegada de seu “irmão caçula”: o dvd duplo, da Roadie Metal, contendo apenas vídeo-clips de bandas brasileiras. A coisa não para…
Como sempre, a coletânea em cd – que também é dupla – abrange um apanhado de nosso cenário atual, com bandas de todas as regiões, de diversos estilos, cantando tanto em inglês quanto em português, sendo que essas últimas tiveram uma representatividade bem expressiva nesse volume. Mas ninguém disse que existe separatismo aqui: um dos destaques dessa edição é a presença da banda Coast To Coast, de Nagoya, no Japão, que apresenta sua faixa “Alive”, alternando estrofes melódicas com refrões rasgados, um pouco na linha do que fazia o In Flames, guardadas as devidas diferenças. Outro momento de além fronteiras, ou melhor dizendo, nesse caso, um cruzamento de nacionalidades, está presente na participação da banda ítalo-brasileira Ruins Of Elysium, que abre o primeiro cd com a faixa “Serpentarius”, bem na linha operística e grandiosa que caracteriza muito do que vem daquela nação européia, mas com um resultado bem mais agradável do que tantas bandas do gênero, que incham demasiadamente seus arranjos.
O formato de mix que esse tipo de coletânea possui é um grande atrativo para quem quer obter uma visão panorâmica do que está se fazendo ao longo de nosso território, sem se ater aos nomes de mais destaque na mídia. Soa até inusitado que, depois da presença italiana no disco, surjam elementos da pátria alemã, representada pelos brasileiros do Older Jack, com seu eficientíssimo Heavy Metal cantado no idioma germânico.
Em uma coletânea onde figuram 34 bandas/artistas, seria por demais extenso, além de desnecessário, detalhar a atuação de cada um. Então, vamos nos ater naqueles que obtiveram mais destaque na visão deste redator, lembrando que qualquer congratulação é extensiva a todos, pois cada um demonstrou uma parcela emblemática de sua obra e merece ter seu trabalho mais explorado e divulgado.
Assim, chamo logo atenção para a presença das vozes femininas em duas boas participações, seja no Heavy vigoroso executado pelo Demons Inside, ou na faixa repleta de entrega emocional da Lasting Maze, de Mossoró-RN, valorizada pelo acento quase pop que tem o timbre da vocalista Grazy Mesquita, trazendo um frescor muito bem vindo à música. E, falando de emoção, partimos para a banda Lo Han, de Salvador-BA, que surpreende com uma balada bluesy, bem na linha Whitesnake.
A música instrumental se faz presente com extrema categoria na pegada virtuosa do guitarrista Patrick Pedroso e na experimentação e ousadia do Unknown Code Of Existence, cujo trabalho precisa urgentemente ser mais conhecido.
Aumentando gradativamente as medidas de peso, o Pato Junkie e o Core Divider representam bem o Thrash Metal, atuando este na linha grooveada de Pantera e Fear Factory, e aquele com uma vibe mais moderna, ostentando um refrão bem empolgante. Do Thrash para o Death, destacamos a cadência e o peso esmagador dos gaúchos do Vultures, a rapidez gutural dos paraenses do Inferms e a pegada acelerada, no melhor estilo Obituary, da Tormentors de São Manuel-SP.
Tangenciando o extremismo musical, a Elizabethan Wallpurga, de Recife-PE, apresenta uma faixa bem variada e trabalhada com a utilização de elementos do Black Metal e que, depois de completar as inserções da coletânea dentro dos limites do metal, permite-nos desfrutar do Punk Hardcore abridor de moshs do Lascados, de Anápolis-GO, e da faixa de encerramento com os gaúchos do Rinits Horror Show, cujo nome já entrega sua linha misfitsiana.
Todo esse belo trabalho é ornamentado pelas magníficas ilustrações de Marcelo Nespoli, que não se resume apenas à capa da coletânea, mas também a todo o cenário de fundo de cada uma das páginas do encarte. Em todas, a cor sépia preenche as cenas de batalhas, esse tema que é tão caro às capas de discos de bandas de rock e que metaforiza, como nenhum outro faz, a rotina das bandas iniciantes e de quem as apoia, mas que sempre avança nos fronts a cada vez que projetos dessa natureza são concretizados.
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8/10