“Nightfall In Middle-Earth” é o sexto disco de estúdio do Blind Guardian. Ele veio após o excelente “Imaginations From The Other Side”, lançado em 1995. Considerado por muitos como o maior clássico da banda e um dos maiores do Power Metal, o último grande disco concebido por este expoente alemão apresenta 22 motivos para ser considerado como tal. Nesta resenha, convido o leitor a entender porque um disco inspirado no livro “O Silmarillion”, do escritor britânico J.R.R. Tolkien, autor também da trilogia “O Senhor dos Anéis”, está no mais alto patamar que um disco pode chegar.
O álbum começa com a dobradinha clássica do Blind Guardian. “War of Wrath/Into The Storm” nos dá uma boa dimensão do que vem por aí ao longo de uma hora e cinco minutos distribuídos em 22 faixas, sendo 11 “introduções” e 11 músicas regulares. A faixa de abertura nos traz um clima de guerra medieval, com sons de espadas e gritos, com um monólogo no final. A segunda é uma das mais clássicas da carreira da banda alemã. Sonoramente, “Into The Storm” inicia com o típico vocal feroz de Hansi Kürsch, a bateria competentíssima de Thomas Stauch, além da excelente dupla de guitarras, composta por Marcus Siepen (base) e Andre Olbrich (solos). O baixo é gravado por Oliver Holzwarth, músico convidado e irmão mais velho de Alex Holzwarth, baterista da banda italiana Rhapsody of Fire, e os teclados são responsabilidade de Mathias Wiesner, outro convidado para este disco. De forma geral, há uma certa alternância entre momentos intensos com outros mais arrastados em “Into The Storm”. Seja como for, estamos falando de uma das melhores músicas da história do Blind Guardian e do Power Metal.
Lammoth é mais uma faixa de “introdução”, que serve de ponte para a belíssima – e ainda mais clássica – “Nightfall”. A faixa começa com violão e flauta, mas logo fica mais pesada com as guitarras. A música vai crescendo até chegar ao refrão, que é bastante cativante, um dos melhores do álbum e até da discografia do Blind Guardian. Andre Olbrich mostra suas habilidades na guitarra com seus solos característicos, mas o destaque individual vai para Hansi Kürsch. Que potência ele tem na voz! Em várias partes de “Nightfall” o vocalista consegue levar o que estamos ouvindo a outro patamar.
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Em seguida vem a vinheta “The Ministrel”, que nos leva a um ambiente mais tranquilo e conta apenas com voz e violão. Mas a tranquilidade acaba com a chegada de The Curse of Feanor, que começa pesadíssima com a bateria fazendo excelente trabalho junto às guitarras e a voz mais agressiva de Hansi Kürsch. O refrão ganha um incremento de coros, feitos por vários músicos convidados. Embora tenha momentos mais cadenciados, agressividade é a palavra chave para essa excelente faixa de um álbum que vai prometendo bastante ao longo da audição.
As faixas curtas vão dando a dimensão de como está a história do livro “O Silmarillion”, obra escolhida pela banda para este álbum. Desta vez “Captured” faz as honras para “Blood Tears”. A primeira é uma faixa mais sombria, dando a impressão de que o lado do “vilão” está para ser retratado. Porém, a seguinte nos dá a visão oposta. Blood Tears dá a impressão de ser uma balada, por começar com muito som de violão, mas também tem seus momentos mais pegados. É boa para dar uma relaxada depois de uma sequência de faixas mais intensas e seguir ouvindo o álbum com energia mais renovada. Os solos de Andre Olbrich melhoram muito a música. De forma geral, “Blood Tears” parece um lamento (a faixa tem um nome bem conveniente para isso), que pode se referir aos mortos na guerra em busca das Silmarilis.
Um dos maiores clássicos do Blind Guardian está neste álbum. Além de “Majesty” e “Valhalla”, faixas dos dois primeiros discos da banda, “Battalions of Fear” (1988) e “Follow The Blind” (1989) respectivamente, “Mirror Mirror” completa o que podemos chamar de “top 3” de hinos dos alemães e também do Power Metal, já que o Blind Guardian é uma das bandas mais influentes desta vertente, junto com Stratovarius, Rhapsody of Fire e Helloween, entre outras. “Mirror Mirror” começa com a bateria e um bom solo de guitarra de Andre Olbrich. Thomas Stauch acelera o ritmo dos bumbos e a música ganha energia. O refrão é um dos maiores do Blind Guardian, perdendo talvez apenas para o de “Valhalla”. Hansi Kürsch está em ótima forma vocal neste clássico absoluto do Power Metal. A bateria está matadora e as guitarras estão sedentas por peso e velocidade. Uma mistura perfeita para tornar esta uma das faixas mais celebradas da carreira de uma banda do porte destes germânicos.
“Face The Truth” acalma os ânimos com um som ambiente e mais uma narração. Em seguida entra outra belíssima faixa deste excelente álbum: “Noldor (Dead Winter Reigns)”. Esta começa com um tom mais denso. Em seguida a guitarra fica mais agressiva, porém não dura muito e a calmaria retorna. A música tem várias mudanças de andamento, principalmente do meio para o final, mas vive seu melhor momento no refrão. As performances de Andre Olbrich e Hansi Kürsch chamam a atenção em determinados momentos, principalmente a do guitarrista, que vive uma excelente fase.
“Battle of Sudden Flame” é o aperitivo perfeito para outra música conhecidíssima entre os fãs do Blind Guardian. “Time Stands Still (At The Iron Hill)” é uma das mais empolgantes do disco, principalmente por causa do refrão, extremamente marcante. A bateria dá as caras no início, junto com as guitarras. Esta faixa tem um clima bem peculiar e algumas mudanças de andamento antes do já citado refrão, que é cheio de coros com a bateria de Thomas Stauch ao fundo. Hansi Kürsch mais uma vez demonstra porque é um dos vocalistas mais cultuados do Power Metal. Sua voz tem uma força incrível e isso se reflete tanto nos momentos mais agressivos quanto nos mais brandos. Thomas Stauch também tem um grande destaque e se prova mais uma vez ao longo da extensa carreira do Blind Guardian que é um excelente baterista, tendo um jeito próprio de lidar com bumbos, pratos e baquetas.
Um barulho de chuva abre mais um interlúdio. “The Dark Elf” conta também com um coro e logo dá passagem para “Thorn”, que começa com muito peso, mas logo se ameniza com os violões. O refrão é cheio de coros, mas uma das boas sacadas são os solos de Andre Olbrich, porém falar dele a esta altura já se torna “chover no molhado”. Além do guitarrista, seus colegas de banda também fazem bem as suas partes, além do baixista convidado Oliver Holzwarth, que marca presença de forma mais notável. No fim das contas, “Thorn” é uma faixa bem calma e cheia de coros, boa para se preparar para o que ainda vem por aí.
O pianista convidado Michael Schüren e os coros abrem “The Eldar”. Em seguida Hansi Kürsch surge com sua voz numa versão mais amena. Faltando poucas faixas para o final, o álbum segue num ritmo mais calmo que antes. Em certo ponto, a voz de Hansi fica mais intensa, mesmo com a música ainda estando leve. É uma das composições mais deslocadas em relação ao que a banda já fez em sua discografia.
Mais um interlúdio marca presença no álbum. “Nom The Wise” nada mais é que uma narração com som de água pingando ao fundo. Depois de tanta calmaria é hora do peso voltar, certo? E isso é possível graças a “When Sorrow Sang”, que chega quebrando tudo. A banda continua dando o seu melhor, principalmente Andre Olbrich e Thomas Stauch, mas Marcus Siepen também tem sua guitarra em evidência em algumas passagens e nem preciso dizer mais nada sobre Hansi Kürsch, né? O cara é simplesmente sensacional.
Duas introduções de pouco menos de um minuto cada vêm em seguida. A primeira delas é “Out On The Water”, somente com voz e violão. “The Steadfast”, é uma breve narração do possível “vilão” da história e também o segundo interlúdio para a chegada da última faixa regular do álbum. “A Dark Passage” tem um clima mais sombrio, condizente com a introdução ouvida anteriormente. A guitarra de Andre Olbrich dita o ritmo da faixa junto com a bateria de Thomas Stauch. Dá para perceber na audição que o clima está mais tenso na história de “O Silmarillion”. Instrumentos de percussão fecham a última faixa regular do disco. A derradeira, de fato, é a vinheta “The Final Chapter (Thus Ends…)”, que nada mais é que mais uma narração, com som de vento congelante ao fundo.
Não é à toa que a maioria dos fãs de Blind Guardian apontam este como o melhor álbum da discografia da banda. E também não é em vão que ele é citado entre os maiores discos do Power Metal. A forma como os alemães utilizaram um dos maiores clássicos de Tolkien como inspiração para suas letras e contaram a história em forma de música, utilizando o que têm de melhor em termos de composições, certamente ajudou para que o Blind Guardian visse o “Nightfall In Middle-Earth” se tornar um dos maiores clássicos não só do Power Metal como de toda a música pesada.
Faixas:
01 – War of Wrath
02 – Into The Storm
03 – Lammoth
04 – Nightfall
05 – The Ministrel
06 – The Curse of Feanor
07 – Captured
08 – Blood Tears
09 – Mirror Mirror
10 – Face The Truth
11 – Noldor (Dead Winter Reigns)
12 – Battle of Sudden Flame
13 – Time Stands Still (At The Iron Hill)
14 – The Dark Elf
15 – Thorn
16 – The Eldar
17 – Nom The Wise
18 – When Sorrow Sang
19 – Out On The Water
20 – The Steadfast
21 – A Dark Passage
22 – Final Chapter (Thus Ends…)
Formação:
Hansi Kürsch (vocal);
Andre Olbrich (guitarra solo);
Marcus Siepen (guitarra base);
Thomas “Thommen” Stauch (bateria).
Convidados:
Oliver Holzwarth (baixo);
Mathias Wiesner (teclados);
Michael Schüren (piano);
Max Zelzner (flauta);
Billy King (coro);
Rolf Köhler (R.I.P. 2007) (coro);
Thomas Hackmann (coro);
Olaf Senkbeil (coro);
Norman Eshley (narração);
Douglas Fielding (narração).
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9/10