“Mob Rules”, a segunda colaboração de Ronnie James Dio com o Black Sabbath, é um clássico, sem nenhuma dúvida, mas fica um pouco aquém de seu antecessor, “Heaven and Hell”. Os dois são maravilhosos, todo mundo sabe, mas “Heaven and Hell” vence por alguns pontos de diferença. Eu creio que, se Ian Gillan tivesse gravado mais um disco com o Sabbath, muito provavelmente também não superaria ou igualaria o que foi realizado em “Born Again”. E se quiçá isso tivesse acontecido, não me é possível conceber o resultado, pois aqui se trata de um álbum PERFEITO em letras garrafais! Em seu 11o. disco de estúdio, a banda, pela segunda vez, se reinventou de uma forma surpreendente, trazendo a voz de Gillan, um dos melhores cantores de Rock pesado de todos os tempos, ainda no auge de sua forma.
Curiosamente, o próprio grupo não considera esse disco como a pérola definitiva que é, e, no exterior, imprensa e público em sua maioria seguem esse pensamento. Existe uma certa contrariedade em relação à produção que, de fato, poderia ter sido melhor, mas a força do material é tão pungente que supera esse tipo de dessabor. No Brasil, o disco tem o peso de obra-prima que realmente merece. “Born Again” é tão denso, tão soturno e carregado de malignitude que atropela de forma definitiva as vãs tentativas de trocentas bandas espalhadas por aí, tentando parecer sombrias.
Para tantos apreciadores, a formação definitiva do Deep Purple é a que traz Ian Gillan à frente. Eu não discordo dessa tendência e tampouco consigo desassociar um de outro. É fácil, por isso, identificar traços purpúreos nas linhas vocais desse disco, mesmo que em momentos discretos e passageiros. O que Gillan fez aqui foi desafiador. Seus gritos em “Disturbing the Priest” ajudaram a deixar a faixa mais claustrofóbica e insana do que poderia ter sido imaginada por Iommi, quando compôs o seu riff. O trio de instrumentistas da formação clássica do Sabbath, acompanhada por um vocalista que já possuía o status de lenda fez com que essa encarnação do grupo apresentasse distinções de sonoridade, com elementos que não foram vistos nas outras formações, mas com a linha principal – a identidade – mantida.
Após a abertura com a clássica “Trashed”, cujo andamento pode ser comparado ao de uma “Paranoid” mais agressiva, temos, entre vinhetas carregadas de efeito, a já citada “Distubing the Priest” e, então, a música mais emblemática do álbum, “Zero the Hero”, sustentada na performance de Geezer, executando um riff cíclico, hipnótico, carregando a música nas costas. Na faceta mais tranquila, “Keep it Warm”, que encerra o disco sem chamar muita atenção, e a belíssima balada gótica, “Born Again”; no lado mais pesado, dois momentos marcantes em “Digital Bitch” e “Hot Line”.
O canto de sereia da volta do Deep Purple foi o mote para que Gillan pulasse do barco. Essa formação do Sabbath foi fortemente pressionada por críticas dos fãs de ambos os lados, fazendo com que os músicos dessem declarações sugerindo que aquela teria sido uma união equivocada, mas não houve equívoco nenhum. “Born Again”, o disco, é um dos melhores trabalhos já produzidos em toda a história do Heavy Metal. Toda! Pena que não se cometem mais equívocos dessa natureza.
Tracklist:
1 Trashed
2 Stonehenge
3 Disturbing the Priest
4 The Dark
5 Zero the Hero
6 Digital Bitch
7 Born Again
8 Hot Line
9 Keep It Warm
Formação:
Ian Gillan – vocal
Tony Iommi – guitarra
Geezer Butler – baixo
Bill Ward – bateria