Na biografia que publicou sobre a banda Iron Maiden, o escritor Mick Wall, em um dos momentos que fez menção a outros grupos do movimento conhecido como NWOBHM, refere-se ao Angel Witch como imitadores do Black Sabbath.
Mick Wall é um nome já bastante conhecido na imprensa, e eu mesmo possuo várias de suas biografias publicadas, mas isso não o isenta de cometer alguns deslizes desnecessários como esse. Imagina-se até mesmo se ele chegou a escutar o disco do Angel Witch antes de escrever tal bobagem. Primeiro, porque, em momento algum, o Angel Witch soa como alguma redundante cópia do Black Sabbath. Tem influências, é claro, mas nomear como cópia é um absurdo. Em segundo, influência por influência, o som do Angel Witch tem mais proximidade com algumas características do Uriah Heep do que com o conjunto de Birmingham.
Sabem aquela famosa frase que diz que a história é escrita pelos vencedores? Faz muito sentido, inclusive neste contexto. Basta ver que sempre que fazemos alguma daquelas batidas listas de melhores discos do estilo, lembramos primeiramente de incluir os álbuns das bandas que o tempo consagrou e que surgem na nossa memória quase como um mantra: Metallica, Judas, Sabbath… Clássicos como o primeiro disco do Angel Witch também são lembrados, mas com uma frequência bem inferior. O mais lamentável é constatar que a banda não avançou por fatores absolutamente internos. O empresariamento amador, aliado a falta de condições do grupo em manter uma formação estável e uma produção constante, em um tempo onde seus pares lançavam um – e às vezes até dois – disco por ano, deixou a banda alguns passos atrás no caminho da popularidade. O Angel Witch passou cinco anos sem disponibilizar material novo, depois de sua estréia, e quando reapareceu foi com outra formação, outra pessoa cantando, outra musicalidade.
Mas isso já são fatos de outro período e, nesse momento, importa o primeiro e antológico álbum, que foi lançado inclusive nas prateleiras das lojas brasileiras, com sua bela e infernal capa. O disco abre com a magnífica e eficiente faixa título, que é certamente uma das melhores músicas de Heavy Metal já feitas e também uma das mais simples. Aquela simplicidade que só os grandes clássicos possuem, como “Breaking The Law”, “Metal On Metal”, “Eternal Dark”, “Black Night” e que surge aqui com todo seu carisma magnético. Escudado pelo baixista Kevin Riddles e pelo baterista Dave Hoggs, o guitarrista Kevin Heybourne compôs sozinho o disco inteiro e não se furtou de ser um dos responsáveis por inaugurar os anos 80 e entregar um trabalho que seria estudado e reproduzido pela geração que receberia o bastão dali a alguns anos. Contendo mais algumas faixas poderosas, cujas principais são “Atlantis”, “White Witch”, “Sweet Danger” e “Angel of Death” – que apontam para o futuro na visão da NWOBHM – ao lado de outras como “Confused” e “Free Man” – que celebram as influências do passado próximo – o disco já teve vários relançamentos, acrescido com músicas retiradas de singles e do EP “Sweet Danger”, mantendo a lenda ativa até nossos dias.
Compreenda, portanto, que, no Heavy Metal, essa história de banda cult ou álbum cult não faz muito sentido. Está tudo interligado como as sinapses em uma rede de neurônios, onde cada banda ou álbum cumpre um papel, recebendo e transmitindo influências em cadeia. “Angel Witch”, o álbum, está numa posição próxima ao centro de tudo e conhecer esse disco é necessário para a plena percepção da evolução do estilo.
Formação:
Kevin Heybourne (vocal e guitarra);
Kevin Riddles (baixo);
Dave Hogg (bateria).
Músicas:
01 – Angel Witch
02 – Atlantis
03 – White Witch
04 – Confused
05 – Sorcerers
06 – Gorgon
07 – Sweet Danger
08 – Free Man
09 – Angel Of Death
10 – Devils Tower
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9/10