Uma banda nova, mas com integrantes com longa estrada e uma ideologia musical intacta e muito forte. Este é o QUILOMBO. Hoje conversaremos com Panda Reis (Oligarquia), para saber mais sobre os trabalhos e temáticas deste seu novo projeto, confira:

Primeiramente gostaríamos que você nos contasse um pouco sobre a história. Também gostaríamos de saber por que você escolheu “Quilombo” como o nome para a banda.

Panda Reis – Agradeço pelo interesse em nossa banda, ainda mais ela tendo acabado de nascer. Apesar de a banda ser nova, os integrantes e o conceito não são, a ideia por trás de todo o conceito da banda já existia. Eu andei falando sobre um disco conceitual com essa temática na Oligarquia, e apesar de todos terem aceitado prontamente, as coisas foram tomando outros rumos, que acabou me trazendo na formação de uma banda nova que iniciasse já com esse conceito, e porque não permear toda as ideias líricas nesse conceito? Então daí pra concepção do Quilombo foi um passo, já que toda a estrutura estava se formando na minha cabeça já fazia certo tempo. O nome foi meio que natural, pois apesar de falarmos das questões de africanidade e assuntos referente à questão afrodescendente no Brasil e no mundo, nosso leque lírico é bem maior, pois as questões que “adoecem” o mundo são mais complexas e diversas que apenas a questão do descendente africano, que são muitas e de certas forma central na minha linha de pesquisa, sendo assim natural em dissecar sobre o assunto. O nome remete sim ao termo propriamente dito de um Quilombo, pois nos quilombos coexistiram descendentes de africanos, de europeus e indígenas, a parcela “marginal” daquela sociedade, algo parecido com a luta social e de igualdade nacional, pois temos lutado pela mesma causa, mesmo tendo etnias diferentes, hoje o quilombo é mais que territorial (salve os quilombos urbanos que ainda resistem nas cidades).  Pela ideologia dos membros da banda, o nome é perfeito, por questões ideológicas, mas étnicas também.

Quais são as suas principais influências musicais e de que forma isso influencia no estilo da banda?

Panda Reis – Complicado falar de influências musicais pra gente, pois o que nos influencia, muitas vezes não tem nada a ver com o som que a banda faz. Eu diria que musicalmente somos influenciados por estilos e não bandas, estilos dentro do conceito Rock (Metal, Hardcore e Grindcore) diversos, que no geral influencia o pessoal DA banda e não propriamente A banda, acho que a maior influência não vem da parte musical, mas da parte político/social, a música é apenas um detalhe.

Vamos falar sobre a pré-produção de seu EP “Itankale”, como está sendo todo o processo? Nos fale sobre o conceito deste álbum? Quem trabalha no processo de composição?

Panda Reis – O processo de pré-produção tem sido bem na moral, sem pressa, sem colocar o carro na frente dos bois, até porque não temos mais aquele desespero juvenil do passado, eu já estou no underground há tanto tempo, que chega um momento que você deixa as coisas fluírem naturalmente sem forçar nada, eu escrevi as letras antes das bases, mas isso porque sempre trabalhei assim no Oligarquia, e ainda não perdi a mania, provavelmente para o próximo, talvez mude a maneira de produção, mas estamos trabalhando até que bem rápido, todas as bases estão prontas e agora estamos encaixando as letras.

O conceito do álbum que na verdade será um EP, vem na qualidade do descendente africano em evoluir sempre, mas nunca deixar o passado, nunca esquecer seus ancestrais e sua cultura milenar, talvez pra quem não tenha essa descendência, pode não entender porque damos tanto valor a nossa ancestralidade e a nossa cultura, mas nós, afro, somos assim, seguimos em frente sempre olhando pra trás e trazendo o passado para o presente, temos a capacidade de renovação incrível, e isso permeia todo o EP… O nome mesmo já diz, Itankale significa “Evolução”, em língua Iorubá, e esse disco fala disso, da habilidade que meu povo tem de evoluir sempre, mas sempre com a base no que passou, sempre trabalhando o pretérito e o presente, preparando o futuro, falamos das merdas que os brancos fizeram conosco , mas contamos à parte que os brancos esconderam, manipularam e depreciaram, para assim justificar a dominação e opressão. Mas cada vez mais, historiadores africanos e afrodescendentes vem contando a verdadeira história e é assim que deve ser, ter a visão dos esquecidos da história, é uma maneira muito mais real e competente de se chegar perto da verdadeira verdade.

Somos uma banda, os três trabalham no processo de composição, isso aqui é um Quilombo, e nos Quilombos todos trabalhavam, ao contrários das cidades européias onde os brancos não queriam saber de trabalho e o achava indigno (risos).

Quais são as principais influências temáticas da banda?

Panda Reis – Isso levaria toda a entrevista para citar mano… mas resumidamente, a ideia da banda é contar a versão histórica dos povos vencidos, esquecidos, massacrados, humilhados, explorados, discriminados e etc… Mas pela visão deles, e não pela visão mentirosa e tendenciosa que a história eurocentrista conta. Eles sempre contaram mentiras ao falar da história, e já passou da hora de contarmos a história pela visão dos vencidos. Esse primeiro ‘trampo’ vai falar do Afrodescendente, os próximos podemos falar de qualquer coisa, porque o que não faltam são povos, culturas e etnias exploradas.

O que o público pode esperar deste trabalho de estreia?

Panda Reis – Um disco pesado, rápido, cheio de dados reais, históricos, onde as letras são bem mais interessantes que todo o resto.

Num momento em que vivemos com opiniões políticas e ódio borbulhando de todos os lados pelas ruas e redes sociais eu pergunto: Qual será o futuro da musica pesada no Brasil? Ficaremos cada dia mais divididos? E por quê?

Panda Reis – Boa pergunta irmão!!! Ando meio desanimado com os rumos, com a descoberta de um monte de bangers fascistas, homofóbicos, racistas que saíram do armário e demonstram-se verdadeiros merdas. Cara, sinceramente tenho pensado muito em tocar ao vivo, não suportaria uma balada ao lado desses idiotas. Acho que sempre fomos divididos cara, a gente que era hipócrita de fingir que não, enquanto não percebermos que a musica, a dita cena, faz parte, esta inserida na sociedade, ou seja, interligada com política, geopolítica etc… E não somos um mundo paralelo, vai ficar essa palhaçada de moleque que não estuda e abraça discursos de outros. O certo seria separar a música do resto, mas será que isso seria realmente possível?? Musica é uma representação cultural, e representação cultural na maioria das vezes é ideológica, então não sei se seria honesto ou verdadeiro separar as coisas. A divisão existe e talvez até seja saudável, mas isso não impede o respeito saca?? Eu tenho pessoas que converso, debato e às vezes até tomo uma cerveja, que pensam totalmente ao contrário de mim, mas como são pessoas inteligentes a gente coexiste, claro que não dá pra chamar o cara pra jantar em casa com minha família, mas consigo levar um diálogo amistoso e inteligente com eles. O mesmo pode ocorrer com a cena, bandas e pessoas que pensam diferente, coexistindo, menos NS, neo-nazis, fascistas e racistas pois ai extrapola a questão música/cultura e caímos em um campo de intolerância mesmo.

Muito se discute sobre o futuro do metal. Você vê novas bandas brasileiras se destacando?

Panda Reis – O Metal deve prosseguir por muitos e muitos anos, assim como qualquer música underground, basta continuar mantendo a independência do mercado. Tem uma porrada de bandas novas no Brasil, de norte a sul, literalmente, e sempre surge uma banda legal aqui e outra ali de diversos estilos, uma que estou viciado é a banda Galinha Preta, estou ouvindo um disco deles de 2012, eu acho, que tem músicas sensacionais (as letras nem tanto), o Chaoslance que faz um som brutal, tem o PMA Trio que é um Rock/Punk bem inteligente, o Yekun é bem legal, pesado e diferente, o Desalmado que é uma banda que gosto bastante na linha mais grindcore, o Voodoopriest lançou um disco legal, mas não sei como vai ficar agora que o Vitinho saiu da banda… porra tem bandas de todo tipo e bem legais, basta ficar um pouco atento.

E quanto à cena paulistana, quais bandas vocês tem ouvido e que chamaram sua atenção?

Panda Reis – Cara, tenho uma dificuldade enorme pra relativizar o que seria bandas novas (RISOS)!!!! Curto bastante as meninas do Nervosa, elas no palco são bem legais, algumas que citei acima, pois são de São Paulo. Gosto de ver o Torture Squad, é sempre uma aula aquela porra, o Infector Cell faz um som legal, tem o Black Metal do Abyside que acho criativo, a banda do meu cúmplice em delitos no passado, o Profundezas, tem uns sons bem legais, o Abiosi do interior… Foda citar nomes, nunca me lembro de porra nenhuma, preciso poupar mais meus neurônios (RISOS)!!!!!

Além do EP “Itankale”, o que podemos esperar para o futuro da banda?

Panda Reis – Novos discos, alguns shows por ai e muita fumaça.

Obrigado pela entrevista e esteja à vontade para falar aos fãs da Quilombo.

Panda Reis – Não temos fãs e nem os teremos, somos uma banda underground que a ideia é passar um pouco de conteúdo histórico recente, estudamos pra falar o que falamos e aqui não tem achismo, temos amigos reais e fiéis e faremos novos, pessoas que curtam o som e a postura da banda, mas afirmo: o mais legal é colar em um show ou em ensaios e falarmos de política, geopolítica, história, cultura mundial, sem pré-conceitos tolos e com a cabeça aberta para as questões humanas… Música é só um álibi!

Quilombo é :

Allan Kalid – Guitarra e Vocal

Bruno – Baixo

Panda Reis – Baterista e Vocal

Contato :

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www.twitter.com/quilombodeath

pandadrums@hotmail.com

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