O NEVERMORE foi fundado em 1992 em Seattle, a partir da extinção de outra banda da mesma cidade, o SANCTUARY. Após dois álbuns (“Refuge Denied” e “Into The Mirror Black“) e relativo sucesso, veio o boom de bandas do movimento Grunge. A gravadora queria que o SANCTUARY adotasse o som da moda, mas dois integrantes (o vocalista Warrel Dane e o baixista Jim Sheppard) se recusavam, enquanto os outros dois (o baterista Dave Budbill e o guitarrista Sean Blosl) eram simpáticos à ideia.
A banda acabou, literalmente, em vias de fato. Então Dane e Sheppard recrutaram o guitarrista Jeff Loomis (que havia passado pelo SANCTUARY e um pouco antes havia impressionado nada mais que Dave Mustaine, em teste para ocupar a segunda guitarra do MEGADETH, que acabara nas mãos de Marty Friedman, mas Dave faria uma “profecia”: Loomis seria um dos grandes guitarristas da cena) e o baterista Mark Arrington, que cedeu seu posto em 1994 para Van Williams, que deixaria seu bom emprego como designer da Nintendo. Estava assim estabilizada a formação da banda que faria, anos depois, um som com muita identidade, e que faria um relativo sucesso, porém, um tanto quanto injustiçada.
Em 1995, era lançado pela “Century Media“, o debut, auto-intitulado e já apresentava coisa nova e interessante, Riffs bem estruturados, solos que mostravam que Loomis iria longe, com destaque para faixas como “What Tomorrow Knows“, “C.B.F“. (que NÃO É uma homenagem à seleção brasileira de futebol), “Garden Of Grey” e “Godmoney“. Impossível não destacar as letras inteligentíssimas de um Warrel Dane inspirado como sempre fora em toda a sua carreira, ele era formado em sociologia, e isso fez com que o NEVERMORE se destacasse liricamente por sair do clichê das letras de algumas bandas de Metal.
Em 1996, eles aproveitaram as sobras da gravação do debut, somaram com covers do BAUHAUS e soltaram um ep chamado “In Memory“. Curtinho, mas bom e que completa-se com o primeiro lançamento.
“The Politics Of Ecstasy” é o segunda lançamento da banda, datado de 1996 e que já mostrou bastante do que seria calcado o estilo da banda: Metal com muita influência de progressivo e riffs que em alguns momentos lembram Thrash Metal. Destaques para as seis primeiras músicas (“The Seven Tounges of God“/ “This Sacrament“/ “Next In Line“/ “Passanger“/ “The Politics Of Ecstasy“/ Lost), além da clássica “The Learning“. Este álbum já colocava a banda em outro patamar, que rendeu uma turnê servindo de banda de abertura para o DEATH. O guitarrista Pat O’ Brien desempenhou a função de segunda guitarra até ser recrutado pelo CANNIBAL CORPSE, onde está, mesmo que afastado, até os dias de hoje.
Em 1999 a banda lançou “Dreaming Neon Black“, primeiro e único álbum conceitual, e que foi o estouro do NEVERMORE na cena: Dane como sempre responsável pelas letras, desta vez abordou uma sombria história de uma ex-namorada sua que tinha morrido de causas “desconhecidas” após frequentar uma seita que pregava o uso de drogas pesadas. Loomis entendeu bem as ideias de seu parceiro e deu tons extremamente pesados e igualmente sombrios, dando ao álbum a homogeneidade que os caras precisavam para se tornar a banda da crista da onda naquele momento. Destaque para as músicas “Beyond Within“, “The Death Of Passion“, “I Am The Dog“, “Dreaming Neon Black“, “Deconstruction“, “The Lotus Eaters“, “Poison Godmachine” (esta foi a música que me fez conhecer a banda e é a minha favorita. Depois eu descobriria que era a faixa favorita também de Warrel Dane), “No More Will“, ou seja, quase que o disco inteiro. Tim Calvert assumia a segunda guitarra na turnê., em que a banda abriu para o ICED EARTH.
No ano de 2000 a banda lançou seu disco mais bem sucedido e muito por conta de alguns fatos que foram somados (acredito que tenham sido intencionais): Loomis adotava a guitarra de 7 cordas, que deixava o som (bem) mais pesado, a escolha do mago Andy Sneap como produtor e a criatividade nas composições. Nascia assim o “Dead Heart In A Dead World“, o álbum favorito de 9 entre 10 fãs do NEVERMORE. A banda teve a audácia de incluir uma canção mais que clássica e fazer uma versão, que em minha opinião pessoal, é a mais diferente, mais pesada e melhor do que qualquer outro cover que qualquer outra banda já tenha lançado na história do Rock em geral: “The Sound Of Silence“, de SIMON & GARFUNKEL. Confesso que me assustei ao escutar de primeira uma versão bem Thrash Metal, mas hoje soa como música clássica aos meus ouvidos. Os destaques do álbum? Escolha você entre “Narcosynthesis” / “We Desintegrate” / “Inside Four Walls“/ “Evolution 169“/ “The River Dragon Has Come“/ “The Heart Collector“/ “Engines of Hate“/ “Insignificant“/ “Bellieve in Nothing” (a música mais popular deles até hoje) / “Dead Heart in A Dead World“, e claro, a cover citada nas linhas acima. Porém, eu quando apresento a banda a algum amigo, escolho “Narcosynthesis“, “Inside Four Walls“, “The River Dragon” ou “Engines Of Hate“.
Para divulgar o álbum, a banda soltou um single em 2001, com duas versões da música “Believe In Nothing” (uma na versão original e outra versão mais curta, para tocar em rádios e que foi usada para o vídeoclip veiculado na MTV), além de sobras de estúdio, e também covers do SIMON & GARFUNKEL e de “Love Bites“, gravada anos antes para um tributo ao JUDAS PRIEST. Este cover além de ser completamente diferente da versão original, ficou maravilhosamente boa como ficou “The Sound Of Silence“.
Em 2003, após grande turnê do disco anterior que incluiu shows no Brasil (apresentação essa que rolou em 2001, cabendo às bandas NECROMANCIA e KRISIUN a tarefa de abertura) e na “obrigação” de manter a qualidade do trampo anterior, a banda veio com seu quinto álbum: “Enemies Of Reality“, o disco mais pesado, raivoso e brutal da banda, porém, o mais subestimado. Muito talvez pela escolha errada da banda do produtor: O ex-batera do QUEENSRYCHE (banda conterrânea do NM), Kelly Gray. O cara, por não ter experiência em produção com bandas de Metal, errou feio na mão e embora tenhamos neste álbum pérolas como “Enemies Of Reality“/ “Ambivalent“/ “Never Purify“/ “Tomorrow Turned Into Yesterday“/ “Create The Infinte” / “Seed Awakening“, os instrumentos estão embolados e isso comprometeu e muito o álbum. Mas eles tentaram consertar chamando Andy Sneap para remixar e o resultado foi fantástico. Um disco desdenhado, mas certamente, bom demais. Tão bom quanto curto, ao final de seus 40 minutos, você tem um gostinho de quero mais.
Em 2005, a banda tenta (não com o mesmo sucesso) repetir a fórmula de “Dead Heart” e faz um álbum que, como já era de praxe, não decepcionaria: “This Godless Endeavor” começa com a bateria e os riffs de uma música ultraviolenta, “Born“. Confesso que quando cheguei na loja e pedi para escutar uma prévia do álbum antes de pagar, achei que a “Century Media” havia colocado um disco de uma banda de Death Metal no lugar de um álbum do NEVERMORE. Um disco muito bom com destaques para a já citada “Born“, “Final Product“, “Sentient 5” (que funciona como uma continuação de “The Learning“, lá do “The Politics” – Confirmada inclusive pelo próprio Warrel Dane em entrevistas), “Medicated Nation” e a faixa-título, que encerra de forma épica com Jeff Loomis dando um show na guitarra, com auxílio de Steve Smyth. A turnê rendeu apresentações em festivais como o épico “Wacken Open Air” e no brasileiro “Live N’ Louder” (este em 2006, no dia em que a mãe de Warrel Dane faleceu, mas o cara foi supre profissional e subiu ao palco na capital paulistana), com Chris Broderick no lugar de Smyth. Eu tive a honra de assistir Chris Broderick duas vezes in loco, infelizmente, não com o NEVERMORE, mas no MEGADETH.
Em 2007, o NEVERMORE resolveu gravar um CD/DVD ao vivo, o primeiro da carreira. Gravado em Bochum, na Alemanha, para um público de 666 pessoas, “The Year Of The Voyager“, que seria lançado em 2008, revisitando todas as fases da banda.
A banda soltou o registro ao vivo e logo deu uma breve pausa, o que acabou sendo compreendido anos mais tarde, quando da separação, e que será explicado nos parágrafos abaixo. Warrel Dane gravou seu primeiro álbum solo, chamado “Praises to The War Machine“, um bom disco em que nada tem a ver com o som praticado pela sua banda principal, a não ser a modernidade, enquanto que Jeff Loomis fez o mesmo e gravou seu primeiro álbum solo, “Zero Order Phase“, onde ele continuou a destilar toda a sua técnica e virtuosismo nas sete cordas. Enquanto isso, Chris Broderick era recrutado para o MEGADETH, onde ficou até 2015, sendo substituído por um certo Kiko Loureiro.
A pausa durou um ano e em 2009 a banda voltou aos estúdios para gravar aquele que seria o seu “canto do cisne”: “The Obsidian Conspiracy“, lançado em junho de 2010. Um álbum que tem seus bons momentos, mas já não mostrava a banda tão coesa como outrora e isso era preocupante: um prenúncio do fim. Destacamos boas composições como “The Termination Proclamation“, “Your poison Throne” (e seu refrão grudento “RISE! RISE! RISE!”), “The Blue Marble And The New Soul” (esta, eu já havia citado em outro texto como a composição mais complexa da banda, em termos de criatividade), “Without Morals” e “She Comes In Colors“. Uma rápida turnê aconteceu com o talentoso guitarrista húngaro Áttila Vöros (que hoje toca no SANCTUARY) na segunda guitarra.
Em 2011, o baixista Jim Sheppard foi diagnosticado com um tumor cerebral benigno, passou por cirurgia bem sucedida e se recuperou. Ele foi substituído em shows do Nevermore por Dagna Silesia.
Em 6 de abril de 2012, Loomis soltou seu segundo álbum solo, chamado “Plains Of Oblivion“. Dias depois, Jeff Loomis e Van Williams anunciaram que ambos estariam deixando o NEVERMORE. A banda se via obrigada a cancelar a turnê que já estava agendada, em parceria com o SYMPHONY X. Confira abaixo o comunicado oficial dos músicos.
“Em uma decisão mútua, Jeff Loomis e Van Williams decidiram sair do NEVERMORE. Chegou a hora de eles seguirem caminhos separados do grupo. Devido a problemas internos e assuntos não resolvidos, nós sentimos que é a hora de seguir em frente. Gostaríamos de agradecer aos fãs do mundo inteiro pelos anos de amor, apoio e entusiasmo. Esta não foi uma decisão fácil, mas muito necessária neste momento. Que nos encontremos algum dia, em algum lugar do tempo.”
Loomis, Jeff; Williams, Van
Em 2013, Dane deu declarações em que a banda havia se separado em decorrência do abuso de álcool entre os integrantes do grupo: “A melhor banda que o álcool já destruiu”, disse ele à época.
Ainda em 2013, o baterista Van Williams juntou-se ao ex-vocalista do ICED EARTH, Matt Barlow e gravou um álbum com a banda que se chamou ASHES OF ARES. Em 2017, ele saiu do projeto. Atualmente ele toca em três bandas: GHOST SHIP OCTAVIUS (desde 2013), LIEGE LORD (entrou esse ano na banda) e no PURE SWEET HELL. Esta última banda existe desde 1997, e Van Williams é fundador e além de tocar bateria, ele faz um dos vocais.
Em 2014, enquanto Loomis se juntava ao baixista Alex Webster (CANNIBAL CORPSE) e formava um projeto completamente instrumental chamado CONQUERING DISTOPYA, Dane começaria uma turnê com os músicos brasileiros Thiago Oliveira (guitarra), Johnny Moraes (guitarra), Fabio Carito (baixo) e Marcus Dotta (bateria), que se tornaria uma relação de amor com o Brasil e os fãs tupiniquins e essa relação duraria até o fim de sua vida. Ainda em 2014, Dane e Sheppard fazia as pazes com os outros remanescentes do SANCTUARY e a banda retornava às atividades, enquanto que Jeff Loomis era recrutado para formar com Michael Amott uma das duplas de guitarristas mais absurdas da cena atual, no ARCH ENEMY.
No ano de 2015, Dane dava inúmeras entrevistas dizendo que não havia deixado de ser amigo de Loomis e que o “NEVERMORE não estava morto”. Em entrevista concedida em outubro de 2018 à ROADIE METAL, A VOZ DO ROCK, o guitarrista Thiago Oliveira me confidenciou que fora testemunha da conversa ao telefone entre Warrel Dane, que estava na sala da casa de Thiago, e Jeff Loomis, e que Dane ficou muito feliz em voltar a falar com o amigo após tanto tempo. As esperanças de que a banda voltasse à ativa eram grandes, inclusive, houve a real possibilidade de o show do retorno acontecer no festival “ProgPower USA“, mas esbarrava na agenda do ARCH ENEMY, sempre muito lotada. O link da entrevista você pode ler CLICANDO AQUI.
Em 13/12/2017, Warrel Dane, que era diabético, faleceu, aos 56 anos de parada cardíaca, em São Paulo, onde gravava seu segundo álbum solo que acabou lançado postumamente com o título de “Shadow Work” (título este que já estava definido enquanto Dane estava vivo). Juntamente com Dane, o sonho dos fãs em ver o NEVERMORE reunido novamente foram sepultados. E Loomis deu várias declarações após a morte de seu amigo de que as conversas sobre um retorno estavam avançadas. Para os fãs, fica um gosto amargo, semelhante ao que aconteceu recentemente com a morte de Andre Matos, em que fora revelado que havia uma brecha para um retorno do ANGRA.
Pessoalmente eu tive o prazer de conhecer Warrel Dane em sua primeira turnê solo, onde ganhei uma promoção e participei do “Meet & Greet“, no qual, quando eu lhe perguntei se o NEVERMORE voltaria, ele me respondeu com um “maybe”. E este “maybe” jamais se concretizará. Nesta mesma noite, eu pedi para que ele incluísse no setlist a música “Poison Godmachine” (a música que me fez conhecer a banda, como contei lá no sexto parágrafo). Coincidentemente, a música fez parte do set. E eu perguntei aos membros da banda se a escolha para esta música já era prévia ou um pedido de fã que fora atendido e foi ai que eu soube que esta era também a faixa predileta de Warrel.
Em 5 de abril de 2018, a “Century Media” lançou um box chamado “The Complete Collection“, que consiste nos 7 álbuns de estúdio da banda, mais o EP “In Memory“, o “Enemies of Reality” remasterizado, os dois discos ao vivo e mais um disco com faixas raras. Para quem não conhece a banda, é uma boa pedida.
O NEVERMORE não voltou, mas deixou a sua marca na história do Metal, não é um dos pilares do estilo como o BLACK SABBATH, METALLICA, MEGADETH, IRON MAIDEN, SLAYER, PANTERA, JUDAS PRIEST, entre tantas outras, mas foi uma opção bem honesta para quem quis (e quem quiser, nunca é tarde para conhecer esta banda tão maravilhosa) conhecer uma banda com identidade própria e praticamente impossível de ser rotulada, em tempos que praticamente nada se cria, quase tudo se copia, o NEVERMORE soube sim, fazer a diferença.
Lineup:
Warrel Dane – Vocal
Jeff Loomis – Guitarra
Jim Sheppard – Baixo
Van Williams – Bateria
Ex-membros:
Mark Arrington – Bateria (1992 – 1994)
Pat O’Brien – Guitarra (1994 – 1996)
Tim Calvert – Guitarra (1997 – 2000)
Chris Broderick – Guitarra (2001 – 2003/ 2007)
Steve Smyth – Guitarra (2004 – 2007)
Attila Vöros – Guitarra (2010 – 2011)
Discografia Completa:
Nevermore – 1995
In Memory (EP) – 1996
The Politics of Ecstasy – 1996
Dreaming Neon Black – 1999
Dead Heart in a Dead World – 2000
Believe in Nothing (Single) – 2001
Enemies of Reality – 2003
This Godless Endeavor – 2005
The Year of the Voyager – 2008
Manifesto of Nevermore (Coletânea) – 2009
The Obsidian Conspiracy – 2010
The Complete Collection (todos os álbuns relançados com bônus) – 2018