O primeiro disco, chamado simplesmente de “Motorhead”, possui indubitável valor histórico, mas a banda que entrou para a história, com um chute vigoroso na porta, nasceu efetivamente em 1979, com o clássico “Overkill”!
Os quarenta anos deste álbum não são uma comemoração exclusiva do mesmo. Quarenta anos de “Overkill” são, também, 40 anos das raízes do extremismo. São 40 anos que definiram, definem e ainda, por muito tempo, definirão o que é o Metal em sua forma mais direta e contundente. A ilustração da capa, com a imagem criada pelo artista Joe Petagno, trazia o mascote Snaggletooth explodindo em estilhaços como se fosse um big bang simbólico de uma tendência musical que iria se expandir a partir daquele instante.
É curioso tomar conhecimento das posições ocupadas pelo álbum em tantas listas de “melhores de todos os tempos” e saber que ele é antecedido por discos de artistas que absorveram a sua influência. Mas trata-se da evolução do estilo. Não estamos nos referindo a um ícone inerte ao longo dos anos, mas a um contexto que permanece passando por gerações como se fosse um código genético. O Motorhead influenciou o Venom, o Metallica, o Celtic Frost. Leia-se, então, que o Motorhead influenciou o Black, o Thrash e o Death Metal. Podemos considerar, portanto, que “Overkill” consta nessas listas em posições múltiplas, em sua própria roupagem ou entranhado nos que o precedem.
Produzido por Jimmy Miller – que já tinha trabalhado com bandas como Blind Faith, Traffic e Rolling Stones, conduzindo álbuns seminais como “Mr Fantasy”, “Beggars Banquet”, “Let It Bleed” e “Sticky Fingers” – o disco abre com um ataque percussivo jamais presenciado anteriormente, originado de um momento em que Lemmy e Fast Eddie Clarke encontraram Philty Animal Taylor treinando para intensificar sua performance nos bumbos.
A faixa “Overkill”, que possui os melhores falsos finais da história, é a abertura de uma coleção de dez canções incisivas, rápidas e sujas, muito sujas, onde de nenhuma outra forma a rouquidão de Lemmy poderia encontrar melhor acomodação. “Stay Clean”, com o solo do som inconfundível do Rickenbacker de Lemmy, e “(I Won’t) Pay Your Price”, pontuada pelos agudos das intervenções econômicas e precisas de Clarke, prosseguem na sequência de momentos antológicos. Escutar “I’ll Be Your Sister”, com todo o seu volume, e saber que ela foi concebida por Lemmy, originalmente pensando em Tina Turner, dá uma segunda perspectiva sobre a composição.
“Capricorn” ecoa na profundidade da frequência de seus reverbs, quase suave em contradição ao arroubo Punk de “No Class”. Após o final de “Damage Case”, o timbre agudo das quatro cordas surge em primeiro plano por cortesia das palhetadas e nos encaminha para a proximidade do final. “Metropolis” foi criada cinco minutos após seu autor ter terminado de assistir o filme, quase como se tivesse a intenção de fornecê-lo os créditos finais, inexistentes na época em que o filme original foi lançado.
Então, chegamos a “Limb From Limb”, com a estrutura e a levada inconfundíveis de um Blues ébrio e fumaçento. O álbum, que foi registrado como uma cartada decisiva após o sucesso do single “Louie Louie”, foi o condutor para que, no mesmo ano, a banda tornasse a atacar com “Bomber”, e o resto é história! O Motorhead, mesmo em suas poucas e pontuais oscilações nunca desocupou o trono. O trio que criou essa obra não caminha mais entre nós, mas o barulho que fizeram não deixa de ressoar.
Formação
Lemmy – vocal, baixo
“Fast” Eddie Clarke – guitarra
Phil “Philthy Animal” Taylor – bateria
Músicas
01 Overkill
02 Stay Clean
03 (I Won’t) Pay Your Price
04 I’ll Be Your Sister
05 Capricorn
06 No Class
07 Damage Case
08 Tear Ya Down
09 Metropolis
10 Limb From Limb