Não preciso entrar nos detalhes no que diz respeito ao fato de Portugal e Brasil serem duas nações irmãs. E esse aspecto também é direcionado para o cenário musical, inclusive no Heavy Metal. E não consigo mensurar a honra em conversar com Ricardo Santos, líder de um dos mais lendários expoentes lusitanos, o Morbid Death. Nesse excelente bate papo, Ricardo abre o jogo com relação à atual mudança de formação da banda, fala da história da banda, das dificuldades locais e sobre o sonho de levar o peso e garra do grupo “para o lado de cá do Atlântico”. Confira abaixo a conversa:
01. Primeiramente gostaria de dizer que é uma honra imensa ter a oportunidade de conduzir essa entrevista. Bom, recentemente o grupo lançou o single “One More Day”. Como tem sido a receptividade desse novo trabalho?
RS -Muito obrigado. A receptividade tem sido muito positiva. As opiniões em relação a este single são unânimes: som atual e mais pesado.
02.E logo em seguida, fomos surpreendidos com uma reformulação praticamente completa na banda. Tal mudança aconteceu, ao meu ver, em um dos melhores momentos da banda, musicalmente falando. O que de fato aconteceu?
RS – A banda tinha traçado objetivos e assumiu um compromisso que terá muita importância num futuro próximo exigindo dedicação e empenho por parte de todos. Acontece que, tal não estava a acontecer como se pretendia e a evolução da banda estava quase que estagnada devido à constante indisponibilidade dos ex-elementos. Obviamente, esta situação já se vinha arrastando há alguns anos e como membro fundador que leva esta banda a sério e que tolerou muitíssimas situações menos agradáveis, houve a necessidade de por um fim nisso. Por exemplo, quando do regresso da banda em 2014, o Morbid Death, até ao presente, apenas compôs um único tema ‘One More Day’. Muito pouco para uma banda com quase três décadas de existência e deu-se o inevitável: dois membros ‘convidados a sair’ e dois que saíram por iniciativa própria. Longe de mim em ‘atirar a toalha ao chão’!! Ficar de braços cruzados à espera de um ‘milagre’ não é para mim. Há que ir à luta, há que trabalhar…e muito! Agora, felizmente para a banda, temos na guitarra o Luis H.Bettencourt, curiosamente um ex-roadie que até chegou a atuar quando da ausência de um dos ex-guitarristas, e o Rafael Bulhões na bateria, uma jovem promessa das ‘peles’. Estamos super entusiasmados e focados a trabalhar em temas novos. Estão dadas as garantias para que a chama não se extingue e que a banda continue a dar alegria aos seus verdadeiros fãs.
03. Há planos para que ele (Single One More Day) seja lançado em formato físico? Talvez com material bônus?
RS – Poderá ser uma possibilidade incluí-lo no próximo álbum como ‘Bonus Track´. Tudo dependerá de todas as outras músicas que farão parte do mesmo.
04. Musicalmente achei que essa nova faixa está bem mais pesada se comparada por exemplo, com as faixas do trabalho anterior “Metamorphic Reaction”. Houve alguma razão para essa mudança?
RS – Nada do que é composto pelo Morbid Death é propositado. Se soar-nos bem, tudo ok e se eventualmente agradar aos fãs, super Ok! (risos). É complicado definir qual a vertente do Metal que nós tocamos porque não seguimos propriamente uma linha específica. No caso concreto do single One More Day, grande parte de se deve a influência do Tiago Alves (Waveyard Studios). Estamos muito satisfeitos com o resultado final.
05. Ainda falando no “Metamorphic Reaction”, ele foi lançado em 2010. E somente 8 anos depois a banda volta com esse novo trabalho. Qual foi o real motivo para esse hiato tão longo?
RS – Pouco mais de um ano após o lançamento do EP ´Metamorphic Reaction’, senti a necessidade de me afastar das lides de músico devido às constantes situações que empatavam a evolução da banda. Além disso, o movimento metaleiro por cá estava a atravessar um período de declínio e o cansaço da minha parte, era notório. Os restantes membros, por opção, decidiram não dar continuidade ao projeto Morbid Death. Após um hiato de três anos, a banda volta à ativa com o mesmo line-up. No período de paragem, alguns dos elementos envolveram-se noutros projetos musicais, fazendo com que a disponibilidade para o Morbid Death fosse menor. Naturalmente, esta situação veio a refletir-se na produtividade da banda.
06. Com quase 29 anos de atividade, qual o segredo da longevidade do grupo?
RS – Ao longo dos anos aconteceram várias saídas e entradas de elementos, onde também me incluo. Há que encarar essas alterações com a maior naturalidade possível. A paixão pelo Heavy Metal motiva-me a levar esta banda em frente, tentando conquistar novos desafios. Outro fator será sempre os fãs da banda. Defendo esta banda com unhas e dentes, talvez por isso, ao fim de quase 29 anos ainda se ouça falar do Morbid Death.
07. Brasil e Portugal são duas nações que tem bastante coisa em comum, principalmente no que se diz respeito a música. Aqui no Brasil, o cenário Heavy Metal está passando por um momento onde excelentes bandas surgiram nos últimos anos, e com isso, conseguem manter a chama do estilo acesa. Como você descreveria o cenário atual português?
RS – Em Portugal, o expoente máximo é o Moonspell que por acaso, já tivemos a honra em ser banda suporte. Existem muitas outras bandas com excelentes álbuns editados e que poderiam estar num patamar mais alto. O movimento está em alta mas, infelizmente para nós, e por sermos naturais de um arquipélago, torna-se mais complicado irmos ao Portugal continental atuar.
08. O fato de vocês serem oriundos do arquipélago dos Açores (Portugal), dificultou mais as coisas nos primórdios da banda?
RS – Sim, dificultou-nos e ainda não nos é fácil. Como banda amadora, a nossa situação financeira não será das melhores porque para todas as possíveis atuações em Portugal continental, temos sempre que pegar um avião. Mas, para o final do ano, estamos a considerar irmos lá tocar.
09. Como está atualmente a agenda de shows? Há alguma chance dos fãs brasileiros conferirem um show de vocês?
RS – A nossa realidade metaleira é muito pequena. Só temos um show agendado até ao momento e por sinal, será num dos maiores festivais de música dos Açores – Monte Verde Festival. Para os possíveis fãs brasileiros…bem, o sonho comanda a vida e quem sabe se um dia tal poderá acontecer?
10. Ricardo, mais uma vez, muito obrigado por nos receber. O espaço agora é seu. Deixe uma mensagem para seus fãs aqui do Brasil.
RS – Apesar da distância entre Brasil e Portugal, com uma simples pesquisa na internet, tudo se torna próximo. Todo o apoio será sempre bem vindo e apesar de termos quase 29 anos de existência, temos ainda um longo caminho a percorrer. Obrigado a todos!
Line Up:
-Ricardo Santos – Voz e Baixo
-Luís H.Bettencourt – Guitarra
-Rafael Bulhões – Bateria