Durante o feriadão do Dia das Crianças (que na verdade é de Nossa Senhora de Aparecida, mas não muitos lembram desse fato) em Recife, os headbangers da capital pernambucana foram presenteados com dois shows de nome em apenas três dias, sendo o primeiro a despedida do Matanza em Olinda (cuja resenha publiquei recentemente), e a apresentação da banda paulista Korzus no dia 13 de outubro, no Estelita Bar, localizado no bairro do Cabanga, trazendo sua turnê em celebração aos 35 anos na ativa.

Além do Korzus, que um dos integrantes é o guitarrista recifense Antônio Araújo, também tocaram na ocasião as bandas locais Brutal Order e Dune Hill.

O Estelita abriu os portões para o público por volta das 20h30, quando a movimentação ainda estava bem fraca para o esperado, porque afinal de contas, não era qualquer banda que iria se apresentar, e sim o Korzus, um dos principais nomes no metal nacional.

Faltavam dez minutos para as 21h quando a Brutal Order subiu ao palco para soltar os primeiros acordes da noite com o seu thrash metal, isso com a pista do Estelita ainda com poucas pessoas.

A recém-formada Brutal Order fazia ali a sua primeira apresentação da carreira, composta por Tiago Xaves (guitarra e vocal), Risaldo (baixo), Randall Silva (guitarra) e Lulu (bateria), sendo esses três últimos remanescentes da antiga banda Firetomb. Recentemente o grupo lançou o seu primeiro EP, intitulado “Homo Homini Lupus”. Certamente, as músicas desse trabalho foram tocadas na apresentação.

Apesar do baixo público no momento, a Brutal Order conseguiu trazer uma ótima energia em cima do palco, tendo também a transferido para o público, que reagiu da forma mais positiva possível, atendendo o Tiago Xaves quando ele pediu para que uma roda punk se formasse.

Era visível a empolgação de toda a banda, afinal, independente de você ser um músico novato ou experiente, a primeira vez que se sobe ao palco é sempre inesquecível, e esse foi o clima que a Brutal Order levou ao longo de todo o show.

Além de tocar todas as músicas do novo EP, a banda também trouxe dois covers para o palco, sendo eles, primeiramente, a já conhecida “Seasons In The Abyss”, do Slayer, e “Thrash Metal”, da Firetomb, antiga banda dos integrantes (com exceção de Tiago).

Após mais ou menos meia-hora de show, a Brutal Order encerrou sua apresentação, onde eles iniciaram sua trajetória na cena local com o pé direito.

Set list:
01. Intro
02. Revolution or Self-Destruction
03. Brutal Order
04. Season In The Abyss (Slayer cover)
05. Homo Homini Lupus
06. Working Till Death
07. Thrash Metal (Firetomb cover)
08. Burn

Logo após, com o Estelita se enchendo um pouco mais (ainda timidamente), era a vez da veterana Dune Hill subir ao palco e mostrar a que veio.

Podemos dizer que a Dune Hill foi o “ponto fora da curva” do evento, pois era uma banda de Hard Rock em meio a duas de thrash metal, mas claro, isso não foi empecilho para ninguém.

Na estrada há seis anos, o set list da banda foi focado em sua grande maioria nas músicas do disco novo que eles recém terminaram de gravar, o intitulado “Song Of Seikilos”, que deve ser lançado em janeiro do ano que vem. O novo trabalho, que será um disco conceitual envolvendo mitologia grega, problemas mentais e a luta de um casal de meninas pela sua sobrevivência, foi produzido pelo guitarrista do Korzus, Antônio Araújo.

Com isso, das músicas tocadas no show, apenas três não eram inéditas. Sendo elas “Seize The Day” e “Lamb Of Gold”, do disco “White Sands”, e “Addiction” do EP “Road to Addiction”.

Essa foi a terceira vez em que vi a banda ao vivo e mais uma vez eles fizeram uma ótima apresentação no palco, mesmo sem o público interagir tanto com eles. O único fator negativo foi alguns momentos em que o microfone do vocalista Leo Trevas estava um pouco baixo, mas mesmo assim isso não o impediu de dar aqueles agudos de respeito.

Set list:
01. Dune Hill
02. Seize The Day
03. El Dorado
04. Addiction
05. The Mirror
06. Set You Free
07. Lamb of Gold
08. God Delivering

Após o fim da apresentação da Dune Hill, era a hora do palco ser preparado para o Korzus, principal atração da noite.

Por volta das 23h, os cinco integrantes entraram aos pouco no palco, tendo Antônio Araújo sido o primeiro, sendo ele basicamente o “anfitrião” da festa, com Marcello Pompeu aparecendo por último para delírio dos presentes, que já estavam em um número maior.

Mas de qualquer forma, o show começou frenético ao som de “Guilty Silence”, com o público intensificando a roda punk e cantando a letra junto com a banda em alto e bom som.

Na mesma pegada, “Raise Your Soul” foi executada, também sendo ecoada por boa parte dos presentes, tendo também a instiga dada pelo guitarrista Antônio Araújo, que mostrava o quão satisfeito estava por tocar em casa com o Korzus.

Logo nas primeiras músicas, Pompeu passou por alguns rápidos momentos em que seu microfone ficou falhando e desligando no meio da música, mas foram casos rapidamente resolvidos.

Quando conversou com o público pela primeira vez, Pompeu discursou em favor aos headbangers brasileiros, dizendo que não era fácil curtir o estilo no Brasil por conta do preconceito das pessoas de fora, fala que foi fortemente aplaudida pelo público.

Após isso, o show seguiu ainda com boa parte do público presente instigado e interagindo bastante com a banda. Até que após a execução da música “Respect”, a banda faz outra pausa para o Pompeu conversar com o público.

Mas esse acabou sendo um dos momentos mais “tensos” da noite, isso porque Pompeu resolveu falar de eleições na ocasião, assunto que, independente da posição que a pessoa tomar, sempre dá polêmica.

Na ocasião, Pompeu citou os ataques que o nordeste tem sofrido desde o resultado do primeiro turno e fez o discurso dizendo que independente de quem ganhar a eleição, nada vai melhorar para a gente e que os políticos são tudo farinha do mesmo saco, e esbravejou “Político bom, é político morto”. O vocalista também pediu que ninguém perdesse suas amizades por conta deles, e pregou a união de todos no metal, independente de tudo.

Ao pregar a união no metal, Pompeu foi aplaudido, mas o discurso político isento dele não agradou grande parte dos presentes, principalmente quando disse que não via o ressurgimento do fascismo, tendo grande parte dos presentes começado a ecoar o grito “Ele Não”, e alguns poucos o acusado de ser “bolsominion”.

O que ajudou a descontrair o momento foi quando Pompeu reclamou ou com Antônio ou com Heros quando eles tocavam suas guitarras no meio de sua fala em três oportunidades.

Marcello não chegou a ser vaiado, mas houve um cidadão que se alterou um pouco e tentou bater boca com ele, tendo o mesmo que ser segurado por outras pessoas para que não houvesse uma confusão maior.

Houve também alguns que deixaram o local após o discurso, e também aqueles que clamaram “Eu vim pra ver um show de rock, p*rra”.

Não vou dizer que ele deveria ter evitado dar o discurso, até porque vivemos numa democracia e todos têm o direito de se expressar como bem entendem, mas que falar de política normalmente é perigoso, principalmente no momento em que estamos, e independente da sua posição, isso é.

Inclusive, após o discurso ser encerrado, senti que o clima na plateia esfriou em relação ao show. Passado o momento, a banda tocou “What Are You Looking For?”, faixa que normalmente instiga o pessoal, mas na ocasião, boa parte parecia ter desanimado, e espero realmente que não tenha sido por conta do discurso do Pompeu.

E por um bom tempo o show ficou com esse clima meio morno, tendo apenas algumas rodas tímidas ou outra, tendo Antônio Araújo tentando instigar o público várias vezes, e em um momento ele e Pompeu praticamente implorado para o pessoal dar um berro estilo “DVD Ao Vivo”, tendo eles atendidos após três tentativas.

O clima melhorou e voltou para o que estava no início do show quando o baixista Dick Siebert desceu do palco e passou a tocar no meio da galera, tendo o pessoal aproveitado para banguear junto com ele e o puxado para algumas selfies.

Após a música “Never Get Me Down”, o microfone de Pompeu resolveu falhar de vez, tendo ele que passar a usar o de Antônio, tendo assim, iniciado a execução da faixa “Correria”.

Terminada a música, Marcello começou a pedir para sua equipe um segundo microfone, para que Antônio pudesse cantar suas partes junto com ele, questão que demorou um pouco para ser atendida. Mas enquanto isso, o vocalista aproveitou para descontrair no palco.

Durante “Truth” tivemos outro grande momento, quando Dick desceu do palco novamente, mas dessa vez, acompanhado pelo guitarrista Heros Trench, tendo ambos os músicos tocado toda a música ao lado do público, que formou uma roda punk ao redor deles.

A apresentação se encerrou ao som das faixas “Guerreiros do Metal” e “Legion”, onde em um momento, Pompeu subiu em uma das caixas de retorno e cantou olho no olho com o público.

Por volta de pouco mais de meia-noite, o Korzus deixava o palco, proporcionando mais uma noite insana para o público headbanger do Recife.

Set list:
01. Guilty Silence
02. Raise Your Soul
03. Bleeding Pride
04. Never Die
05. I Am Your God
06. Respect
07. What Are You Looking For?
08. Vampiro
09. Catimba
10. Agony
11. Trio 1
12. Internally
13. Discipline of Hate
14. Never Get Me Down
15. Correria
16. Truth
17. Guerreiros do Metal
18. Legion

Indo para as considerações finais sobre os shows em si, acho que não preciso falar mais nada, tudo que era necessário dizer já foi dito. Sobre o fator público, o Estelita não chegou a ficar vazio na apresentação do Korzus, mas se esperava muito mais gente por se tratar da banda em questão. Podem ter pesado os fatores “feriadão”, já que muitos aproveitam a oportunidade para viajar, ou então o fato de ter tido show do Matanza em Olinda dois dias antes, o que pode ter tirado uma parte do público.

Sobre o espaço do Estelita, falarei aqui uma coisa que sempre falo em relação a isso, como o mesmo não foi pensado para esse tipo de show quando foi criado, há algumas coisas que eles precisam repensar quando ocorrerem apresentações de metal lá.

Primeiro, o fato deles deixarem as pessoas andarem com garrafas de vidro pela casa, e não falo nem por conta do risco de algum doido usar aquilo como arma (apesar de também haver esse risco), e sim por conta do risco de, na hora do alvoroço da roda punk, algum cair no chão, quebrar e ocasionar algum acidente. O mesmo falo em relação às mesas que tem na parte diagonal da pista.

E segundo, o sistema de comandas da casa, que para mim só faz atrapalhar na hora da saída, pois fica aquela fila gigantesca. Isso também levando em consideração aqueles que pouco consumiram, ou então não consumiram nada.

No mais, esse foi mais um evento onde o metal foi celebrado na capital pernambucana.