Show intimista, instrumental e com histórias pessoais. Esse é o resumo da apresentação de Kiko Loureiro Trio que aconteceu na quinta-feira passada, 29 de agosto. O Hard Rock Cafe é um templo do rock e o espaço no terceiro andar deu um charme especial e muito convidativo ao show.
A abertura ficou por conta da banda curitibana Ankhy. Para esquentar a plateia, eles mesclaram músicas do Judas Priest, com algumas de autoria própria como “Lunius”, “Ways to Oblivion” e “War of the Gods”. É sempre muito interessante quando a produção escala uma banda local com música autoral. Tem muita banda com qualidade musical excelente na cena curitibana.
O trio subiu ao palco por volta das 22h30. Kiko Loureiro na guitarra, Felipe Andreoli no baixo e Bruno Valverde na bateria. O trio, que se destaca pelo virtuosismo, fez um show essencialmente instrumental. Além dos aplausos pela qualidade musical, o guitarrista arrancou risos da plateia. “Não sei o que acontece que os caras começam a falar inglês comigo. Mas sabe que quanto mais você viaja, mais você se sente brasileiro. Por pior que seja, ops. (risos) Por isso pode falar português comigo que eu entendo.”, disse ao responder um comentário. “Falaram que eu to falando com o sotaque do dr Rey.”, complementou Kiko, gerando mais risos do público.
Entre as músicas tocadas estão “Camino a casa”, “Dilemma”, “El Guajiro”, “Enfermo”, “Escaping”, “Feijão de corda”, “No Gravity”, “Pau-de-Arara”, “Ray of Life”, “Reflective”. Kiko contou sobre a japonesa Li-sa-X, de 11 anos. Ela ficou famosa ao lançar um vídeo no seu canal do Youtube, tocando guitarra em uma das músicas mais difíceis de Loureiro. “Vi o vídeo da menina com 11 anos tocando essa música. Agora a gente vai tentar tocar porque afinal de contas, é o segredo dos asiáticos.”, disse ao anunciar “Gray Stone Gateway”.
Os músicos se despediram e saíram do palco, mas voltaram logo depois para mais uma música, de caráter muito especial e até mesmo como uma homenagem a André Matos, que faleceu recentemente. Kiko contou que quando estavam na produção do Holy Land, queriam misturar elementos da música brasileira: “Tinha outras bandas misturando a identidade brasileira com Rock, Nação Zumbi, Chico Science, várias bandas assim e a gente também estava nesse movimento. O produtor alemão não entendeu nada então foi um pouco difícil. No segundo álbum ele já entendeu melhor. A gente foi com uma ideia mais pronta e uma dessas músicas era a ‘Nothing to Say’.”
O guitarrista continuou a história dizendo que essa composição não foi criada durante a produção de Holy Land, mas sim quando ele e o baterista Ricardo Confessori tocavam com ninguém mais que o Supla: “O Ricardo ficava todo o tempo treinando a Painkiller, que é uma música do Judas (Priest). A gente tocava Painkiller, só que o Supla não sabia cantar que nem o Rob Halford. Aí o Supla cantava Jesus Cristo, do Roberto Carlos, em cima da base do Painkiller.”
Após gritos da plateia de “Papito”, em relação ao bordão do Supla, Kiko continuou: “Nessa época o Ricardo sempre tocava uma levada que ele chamava de samba metal. Ele tinha umas três ou quatro levadas assim, que são todas as partes da música já. Ele não tinha música, mas imaginava que elas ficavam bem juntas. Um dia eu estava improvisando na guitarra, a gente estava no sítio, com porta aberta, tocando alto pra caramba, guitarra e batera, e eu olhei pro André, que chegou ali. ‘Eu to sem melodia para essa parte’ (Kiko com voz mais fina, imitando André Matos)”, isso porque ele estava no quarto criando a melodia enquanto ouvia os dois. “Como não tinha letra, ficou ‘Nothing to Say’.”, finalizou Loureiro.
E assim terminou o show. Kiko deu alguns autógrafos pra quem estava na frente do palco e saiu em sequência. Andreoli e Valverde também deram atenção aos fãs antes de sair de cena. Assistir um show instrumental não é pra qualquer um, ainda mais com três virtuoses no palco. Mas esse tipo de apresentação atraiu um público muito específico, fãs do Angra, do Megadeth, atual banda de Loureiro, e, especialmente, de música de qualidade.
Uma das ações que aconteceu durante o show foi a intervenção artística de Marcelo Bittencourt. “Eu faço pinturas ao vivo e transformo a atmosfera do evento em uma obra de arte. Uma pintura fica no Hard Rock e a outra vai viajar com o Kiko Loureiro. Isso vai ser um presente do Hard Rock para o Kiko Loureiro Trio.”, disse ele finalizando dois quadros.