A eternidade pode ser alcançada com poucos passos. O Joy Division lançou apenas dois discos oficiais em sua carreira, mas tornou-se a bússola pela qual grande parte do cenário Pós-Punk iria se orientar e, a partir daí, o Gótico, o Eletrônico, o Trance, o Alternativo…
As influências de Velvet Underground, Kraftwerk e David Bowie foram fragmentadas em canções minimalistas, onde o ritmo denso, hipnótico e angustiante é decomposto em andamentos lentos e a sensação de claustrofobia amplia o sentimento de solidão que percorre as letras.
A antológica capa traz a captação da morte de uma estrela em ondas de rádio. O disco originalmente não possuia informação sobre qual seria o lado A ou B, mas o lançamento em CD convencionou que “Disorder” deveria ser a primeira faixa. Contendo uma batida mais acelerada – quando comparada com o resto – a canção é um retrato do cenário do Rock inglês nos anos 80, com o baixo conduzindo a melodia, o sintetizador onipresente e a guitarra pontuando complementos.
Ian Curtis entoava o seu timbre barítono, que casava como uma luva em canções do tipo de “Day Of The Lords”, capazes de lhe dar a impressão de estar tentando se mover dentro de águas escuras. “Candidate” mergulha ainda mais fundo e soa mais experimental e enibriante, enquanto que os efeitos de “Insight” apontam para o Technopop. As batidas de Stephen Morris são marcações metronômicas sobre as quais o baixo de Peter Hook pôde estabelecer as regras de toda uma nova escola. A inversão de papéis dentro da configuração normal de uma banda coloca a guitarra e os teclados de Bernard Sumner na posição de criarem a cama sobre a qual as canções se desenvolvem, mas ele chama para si o protagonismo em faixas mais voltadas para a proeminência das seis cordas, como New Dawn Fades”.
O que supostamente seria o lado B do vinil começa com “She´s Lost Control”, que é uma música de muita força, com elementos de interpretação evidentemente calcados em Iggy Pop, mas tem menos aparência de faixa de abertura do que “Disorder”, fazendo-me crer que a escolha de ordem do CD foi a mais acertada. “Shadowplay” é outro momento em que Sumner surge com destaque dentro do arranjo. “Wilderness” chama a atenção pelos efeitos de Hook deslizando sobre as notas do baixo por cima do reverb do som de bateria.
Em “Interzone” é o baixista que assume a voz principal, enquanto Curtis surge como apoio, cantando versos complementares aos que iniciam as estrofes. “I Remember Nothing” seria algo como se o The Doors retornasse para dar prosseguimento a sua “The End”, absorvido pelo zeitgeist do final dos anos 70 na Inglaterra. Não creio que o Joy Division seguiria o caminho adotado pelo New Order, caso Curtis não tivesse se suicidado, mas isso é apenas especulação. Como todo artista que expõe a sua dor, Curtis era muito sincero na sua poesia e é por isso que ela se mantém tão preservada quanto o mito do cantor. A sua trajetória foi fiel e respeitosamente demonstrada no filme “Control”, dirigido por Anton Corbijn em 2007. A película é toda em preto-e-branco, o que aumenta a fidelidade da obra. Afinal, não existem cores na música do Joy Division.
Formação
Ian Curtis – vocal
Bernard Sumner – guitarra, teclado
Peter Hook – baixo
Stephen Morris – bateria
Músicas
01 Disorder
02 Day of the Lords
03 Candidate
04 Insight
05 New Dawn Fades
06 She’s Lost Control
07 Shadowplay
08 Wilderness
09 Interzone
10 I Remember Nothing