Em 1968, um grupo de jovens resolveu fazer um som diferente e misturar o blues com outros gêneros que estavam surgindo. A época era mesmo de experimentação sonora e aquele grupo não fazia a menor ideia que o seu som seria conhecido e reverenciado mais de 50 anos depois. E foi para prestar suas homenagens ao Jethro Tull que Martin Barre se reuniu com alguns colegas para uma apresentação histórica no Tork´n´roll, casa de shows que alia o conceito de entretenimento, gastronomia e motociclismo. O guitarrista foi o braço direito de Ian Anderson na construção da identidade sonora da banda e tocou alguns clássicos para um público apaixonado. O show aconteceu no dia 06 de março de 2020 e contou com algumas bandas de abertura: Didley Duo e The Cosmic Surfer.
Didley Duo – 22h02
Se a palavra é experimentar, Didley Duo foi uma boa escolha para ser a primeira banda a subir no palco. Os instrumentos diferentes causam estranheza à primeira vista, mas a aptidão musical de Breno Teixeira e João Kolachinski conquistaram o público rapidinho. “Valeu. Esse som que vocês ouviram saiu da latinha das meninas super poderosas e um cabo de vassoura. Agora é uma pá.”, disse Breno que também anunciou outro instrumento feito de um cabo de vassoura, duas cordas e uma lata de leite Ninho. Mas foi com uma lavadeira de roupa customizada que o duo arrancou aplausos e gritos. Breno contou um pouquinho sobre como foi essa experiência. “Foi alucinante! Sem palavras pra descrever… Ele sempre foi uma referência em som progressivo e como nosso trabalho é alternativo ele sempre foi uma grande influência pra nós!”, disse o guitarrista.
Setlist: “Badass Boogie”, “Bo Diddley’s Groove”, “Boogie Bow”, “Daddy’s Job”, “Third Wind”, “Lo Fi Trip”, “Dear Loonie Pitchford”, “Heavy Feet”, “The Boogie Diddley”.
The Cosmic Surfer – 22h47
A segunda banda a subir no palco e esquentar o público foi The Cosmic Surfer. Formada por Gabriel Gontijo nos vocais e na guitarra, Beto Janesch no baixo e vocais, Rafael Richard na guitarra e William Lamar na bateria, o som é uma mistura de rock, soul, blues, grooves brasileiros, new wave, ska, punk, surf e skate, tudo em um. “Acho que tem as coisas mais óbvias do que a gente escutava na adolescência, como Creedence, Rolling Stones, The Beatles, essas coisas óbvias e cada pessoa da banda já traz uma outra influência. São coisas às vezes absurdas, longe do padrão, aí juntando isso é o que dá essa personalidade cósmica para tudo que a gente faz.”, disse Gabriel sobre essa mistura das influências na sonoridade. O vocalista também falou sobre o convite para participar do evento: “Foi meio inesperado, a gente estava ensaiando e um dos produtores ligou e falou vocês estão indo para Curitiba, vão abrir para o Jethro Tull. Uau. É uma banda que eu já vi em Nova York, os meus pais eram fãs deles então eles ficaram ainda mais empolgados. É um grande prazer, um orgulho.”. E para quem gostou do som do The Cosmic Surfer, 2020 trará novidades. “Lançamos um disco completo chamado ‘Get Cosmic’, em 2019, e já estamos com um planejamento grande para fazer um novo disco e vários eps agora em 2020. Vão ter muitas novidades.” finalizou Gontijo.
Setlist: “Supernatural Blues”, “Easy to Say”, “God of Destruction”, “Cosmic Surfer”, “Someone I Can’t Hold”, “The Key”, “Split Personality”, “Even Mermaids Get the Blues”, “Insignificant”.
Martin Barre – 23h48
Darby Todd foi um dos primeiros a subir no palco e se direcionar para a bateria, seguido de Adam Wakeman no teclado, Alan Thompson no baixo, Dan Crisp no microfone e Martin Barre na guitarra. Era um pouco antes da meia noite e o público estava ansioso e animado para o show. Quem gosta de Jethro Tull e curte um som progressivo dos anos 70 estava lá. E se não estava aconselho a você não ler esta resenha, para não sentir aquela pontadinha no coração, aquele arrependimento de não ter ido. Sim, foi uma noite gostosa com apresentação impecável. Chega a ser inexplicável a conexão que essa lenda do vinil fez com o público no momento em que pisou no palco. “Estamos muito felizes por estar na América do Sul porque amamos vocês. Demoramos muitos anos para chegar aqui, mas eu estava determinado a voltar e vê-lo porque vocês são meus amigos de muitos muitos anos. Portanto, temos que compensar o tempo perdido e reavivar nossa amizade. Vamos nos divertir muito com algumas músicas dos anos de Jethro Tull, a partir de 1969.”, disse o guitarrista.
Parecia que a graça para Martin estava em entreter o público, ou ao menos era essa a sensação. Muitas bandas vão ao palco com a postura de “vocês estão aqui por mim”, e não “estamos aqui por vocês”. A lenda do vinil estava se divertindo a valer, fez um duelo com o baixista, cantou a plenos pulmões, mesmo fora do microfone e tocou até se descabelar. E o público, claro, respondeu à altura e entrou rapidinho no clima. Em “Aqualung” a luz da plateia se acendeu e foi possível ver os celulares em punho, os olhos vidrados no palco enquanto cantavam com vontade. Essa cena, em que os músicos e o público criam uma conexão de alegria e divertimento é uma das mais bonitas e que certamente vale cada centavo de um show.
“Agora a gente vai levar vocês para a terra do progressivo, e se tudo der certo, voltaremos. Essa música que vamos tocar é muito louca.”, disse Barre anunciando ‘Sealion’. Pouca gente tinha notado a presença de Dee Palmer ao fundo, do lado esquerdo da bateria, quase como se fosse se esconder, até no momento de seu solo, em que o foco de luz iluminou seus teclados.
Um vinil se destacou na multidão. “O que diz nesse álbum? Oh meu Deus, agora vamos ter que tocar alguma coisa.”, disse o guitarrista que não perdeu tempo e embalou uma versão resumida de “Thick as a Brick”. O público fez reverência e gritou ‘Martin’, o baterista aproveitou a deixa e entrou na onda. O guitarrista então subiu na caixa de som para ficar mais perto do público.
Wakeman fez um pequeno solo, uma leve demonstração de suas habilidades musicais, e foi prontamente aprovado por Barre que fez um sinal positivo com a cabeça, com um leve sorriso de orgulho. Em entrevista, o tecladista comentou sobre como é fazer parte deste projeto. “É incrível porque a música é brilhante, é realmente complicada e muito divertida de tocar, então é bom estar envolvido na banda, todos os músicos são pessoas adoráveis.”, disse Adam.
“Muito obrigado”, disse ele jogando um beijo pra plateia, com direito a barulho “muack”. Comemorações de aniversários merecem festas incríveis, e esta com certeza foi uma delas. Era por volta da 01h30 da manhã quando os músicos deixaram o palco, não sem antes agradecer, jogar beijos e acenar para o público.
Setlist: “A Song for Jeffrey”, “My Sunday Feeling”, “Back to the Family”, “For a Thousand Mothers”, “Nothing Is Easy”, “To Cry You a Song”, “Hymn 43”, “Aqualung”, “War Child”, “Sealion”, “Cross-Eyed Mary”, “Heavy Horses”, “Songs From the Wood”, “Hunting Girl”, “Thick as a Brick”, “Minstrel in the Gallery”, “Teacher”, “A New Day Yesterday”, “Jump Start”. Bônus: “Locomotive Breath”.