O Inspirando Sucesso é um que conta a trajetória de um músico ou banda, contando um pouco sobre seu início, algumas curiosidades e seus projetos futuros.
Nesta semana nosso convidado é Marcus Dotta, 35 anos, nascido em São José dos Campos é um dos bateristas mais talentosos da sua geração. Conheça mais sobre sua trajetória.
Seu interesse pela música e influências:
“Eu tive o clássico contato com o Rock/Metal que um adolescente dos anos 90 poderia ter: um amigo trouxe uma fita cassete com uma compilação do Iron Maiden. Pouco depois disso conheci Helloween e foi amor a primeira ouvida. Tive meu primeiro contato com Helloween através o disco Better than Raw que esse mesmo amigo me mostrou na época do lançamento, 1998. Aí que tive contato com a minha maior influência na bateria até hoje, o batera o Helloween durante a maior parte dos anos 90 até 2001, Uli Kusch. Na minha opinião, esse cara revolucionou a bateria do estilo na época, com uma linguagem extremamente dinâmica na bateria, ao contrário dos tradicionais bateristas de power metal alemães, conhecidos por tocarem como robôs. Fora que o Uli era compositor também. Algumas das minhas músicas preferidas da banda foi ele quem compôs, como Push e Revelation. No final dos anos 90 e começo dos anos 2000 eu decorei cada trecho dos discos que ele participou no Helloween, Master of the Rings, The Time of the Oath, Metal Jukebox, Better than Raw e The Dark Ride. Logo após sua saída do Helloween, ele montou o Masterplan junto ao Roland Grapow e o primeiro disco da banda também é uma obra prima.”
Início e sua primeira banda:
“Meus amigos de escola na época também gostavam e decidimos aprender a tocar um instrumento e montarmos uma banda para tocar Helloween principalmente, mas também outras músicas que a gente gostava muito na época, como os discos solo do Bruce Dickinson (Chemical Wedding principalmente). Assim, no ano de 2000 eu comecei a ter aulas de bateria e montei minha primeira banda. Depois disso foi só história. Dos covers fui migrando para o autoral e a cada experiência eu sabia que eu tinha nascido pra isso. Fiz faculdade, uma pós-graduação, trabalhei na área, mas sempre levei muito a sério ter banda, gravar cds, fazer shows. Em 2006, minha banda na época, THRAM, abriu para o Nevermore em Curitiba. Acho que junto ao Helloween, Nevermore foi minha banda preferida. Foi incrível tocar junto e ver ao vivo o Warrel Dane, Jeff Loomis e etc, no auge do Nevermore, na tour do This Godless Endeavor.”
Warrel Dane
“Anos depois de me formar, trabalhei por um tempo na área e já não estava muito feliz, resolvi arriscar viver só de música. Como eu disse, sempre toquei, gravei, viajei e levei a sério, mesmo que paralelamente ao que eu estudava/trabalhava. Mas o timing dos meus 25 anos era o momento para eu tentar. Comecei a dar aulas de bateria, mas sempre envolvido com bandas, gravando, conhecendo pessoas do meio. Em 2013 eu fui contratado para gravar algumas músicas no saudoso Estúdio Norcal em São Paulo e conheci o Fábio Carito, baixista, que também estava naquela Gig como contratado. No começo e 2014 o Fábio me liga dizendo que tinha me indicado para o produtor Tiago Claro que estava organizando a primeira tour solo que o Warrel Dane faria cantando clássicos da carreira dele, principalmente Nevermore (naquela época a banda já tinha acabado). Assim comecei a tocar com o Warrel. O primeiro ensaio para a primeira tour for surreal, pois eu estava tocando com o cara que dava aquela voz característica para as músicas que eu escutei infinitas vezes indo e voltando da faculdade 10 anos antes. Depois dessa primeira tour, fizemos mais duas no Brasil, duas na Europa e em 2016 começamos a compor com o Warrel seu segundo disco solo, chamado Shadow Work. Lembrei daquele ano de 2006 que eu tinha conhecido o Warrel como fã e, 10 anos depois, eu estava compondo um disco com ele. Infelizmente em 2017 o Warrel faleceu no meio das gravações de vocal do disco, mas conseguimos com a Century Media organizar um lançamento póstumo do disco, também como uma grande homenagem nossa a ele. Foi um dos maiores lançamentos da gravadora em 2018, que é uma das maiores o mundo. O disco acabou por entrar em alguns charts de vendas na Europa. Tenho muito orgulho de ter participado do legado do Warrel e isso ter ficado eternizado no Shadow Work. Eu vivi o sonho de ser um músico profissional no Metal, como muitos músicos europeus fazem. Tours estruturadas na Europa, com tourbus, equipe, disco com investimento real de gravadora. Além de ter tocado com um cara que era meu ídolo e depois virou meu amigo.”
Bandas Autorais
“Após o falecimento do Warrel, me dividi entre meus trabalhos com meus projetos autorais, minhas bandas tributo e também a continuação do meu trabalho como sideman de artistas internacionais.
Vikram é meu projeto autoral já de alguns anos junto ao guitarrista Tiago Della Vega, idealizador de todo o conceito da banda. O Tiago ficou conhecido por ter conquistado o título do Guinness como guitarrista mais rápido do mundo há alguns anos atrás. Ele viajou o mundo fazendo workshops e participando de programas e TV. Mas com o Vikram nós quisemos fazer algo diferente, misturando elementos não muito comuns ao Metal. A banda mistura peso e técnica com elementos de diversas culturas orientais, principalmente árabe e indiana. Lançamos nosso primeiro disco no final de 2019 no Japão pela Spiritual Beast Records e no resto do mundo pela italiana Rockshot Records.
Também toco com o About2Crash, banda com sonoridade mais moderna que já tocou no Rock in Rio de 2015 e teve em seu lineup músicos como Aquiles Priester e Luis Mariutti. Recentemente a banda se reestruturou, o Aquiles tinha ido morar nos Estados Unidos e me indicou para a banda. Estamos preparando o lançamento do primeiro disco completo da banda para o segundo semestre de 2020.”
Bandas Tributo
“Como músico profissional, é inegável que bandas tributo são uma importante fonte de renda. No Brasil temos diversas bandas muito profissionais nesse sentido, que proporcionam uma verdadeira experiência nos shows, com produção de palco, figurino e etc, muito fiéis aos grandes mestres a quem prestamos tributo. Nesse sentido que conduzimos o trabalho na Heaven and Hell Dio Tribute, talvez o principal tributo ao Ronnie James Dio aqui no Brasil. E também toco com o Steel Tormentor Helloween Tribute, como bom fã de Helloween.
Em 2019 e 2020 fiz mais duas tours com artistas internacionais. Ano passado com a cantora americana Leather Leone (Chastain). Tocamos pela américa latina junto da banda clássica inglesa Raven. E no começo desse ano de 2020 tive o privilégio de fazer uma tour com o ex guitarrista do Helloween e atual Masterplan, Roland Grapow, também tocando clássicos da carreira dele. Simplesmente ele participou de todos meus discos preferidos do Helloween que eu contei lá no começo. Os discos que eu escutei a exaustão há 20 anos atrás. Tocar com o Roland as linhas que o Uli Kusch, minha maior influência na bateria, compôs foi mais um sonho de moleque realizado.”
“Tocar e viver desse estilo aqui no Brasil é extremamente difícil, quase coisa de louco, mas me sinto privilegiado por ter conseguido tocar com alguns dos meus ídolos, viajar o mundo e ainda ter gás para fazer música. Que assim continue depois que o mundo sair dessa pandemia. Obrigado pelo espaço Roadie Metal e continuem apoiando quem tem a manha de dar a cara a tapa em condições tão adversas como o Metal no Brasil.”