No dia 21 de setembro de 1993, a banda de Seattle, liderada por Kurt Cobain, lançava seu último álbum de estúdio: In Utero.
A carreira meteórica da banda no mainstream começou com o lançamento do segundo álbum de estúdio da banda, o Nevermind, lançado dia 24 de setembro de 1991. Com o lançamento deste trabalho, a cena underground de Seattle começou a dominar as paradas de sucesso e várias bandas da cidade e região começaram a buscar seu “lugar ao sol”. Ali o termo “grunge” começou a ser usado para rotular as bandas que seguiam um padrão de estilo e faziam um som diferente do que estava nas paradas de sucesso até então.
O In Utero apresenta a essência da banda: tudo o que Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl queriam passar para o público está estampado e apresentado em cada acorde e cada frase do álbum.
O Nirvana lançara apenas 3 álbuns de estúdio: Bleach (1989), Nevermind (1991) e In Utero (1993), além de uma coletânea de sobras que não entraram nem no primeiro e nem no segundo álbuns. Esta coletânea fora chamada de Incesticide e acabou saindo por pressão do público, que queria algo novo, e da gravadora, que via ali uma chance de lucrar ainda mais com o fenômeno que tinham nas mãos.
Até o lançamento de Nevermind, o Nirvana era uma banda que fazia certo sucesso na cena underground de Seattle, porém era desconhecida da grande massa. A banda já havia lançado seu primeiro álbum chamado Bleach, porém, como lançaram por uma gravadora independente chamada Sub Pop, não tiveram a exposição que esperavam. Buscaram outra que pudesse elevar o nome da banda; fecharam com a Geffen.
Quando a Geffen assinara o contrato com a banda, não tinha em mente do sucesso que a banda poderia causar. A expectativa de vendas do disco Nevermind era bem mais modesta do que a realidade apresentou. Com o sucesso meteórico, a gravadora começou a querer que a banda produzisse mais. Em meio a shows e uma turnê muito longa, o Nirvana não tinha tempo para poder criar, com isso, o Incesticide fora lançado.
Quando finalmente conseguiram parar para criar e revisar material que já possuíam, o Nirvana entrou em estúdio para lançar aquele álbum que seria o mais sincero e visceral da banda: In Utero. O Bleach, apesar de ser um bom álbum, não possuía a carga sonora que viria a ter o In Utero. Ambos os álbuns soam viscerais, porém um elemento diferente entre eles faz muita diferença: Dave Grohl. Em Bleach, as baquetas eram dominas por Chad Channing.
Dave Grohl assumira a bateria um pouco antes de começarem as gravações de Nevermind. Antes de assumir, a banda sempre “sofreu” com bateristas, pois nenhum conseguia apresentar o som esperado por Kurt e Krist.
Nevermind é um álbum cheio de hits e de músicas feitas para cantarolar. Elas possuem peso, algumas até são densas em alguns momentos, porém não se comparam à densidade, visceralidade e sinceridade apresentada em In Utero. Kurt aqui foi tão sincero que a primeira frase de seu álbum ele consegue fazer um pequeno ataque à gravadora e, por que não dizer também, à fama: “A angústia adolescente pagou muito bem, agora estou entediado e velho”, fazendo referência ao conteúdo presente em Nevermind e deixando claro que, se o público esperava a mesma sonoridade e o mesmo conteúdo em In Utero, era melhor mudar seu conceito, pois seria um trabalho mais maduro e diferente. Assim foi.
Músicas como “Scentless Aprentice” (faixa inspirada no livro “O Perfume” de Patrick Süskind) e “Milk It” são a prova de que o disco seria muito mais pesado e denso, sem as características adolescentes tão facilmente notadas no trabalho anterior. “Milk It” ainda soa como uma crítica a guitarristas muito virtuosos, uma vez que vemos Kurt fazendo riffs e solos sem sentido, fora do tom, trazendo uma sensação de incômodo com quem está ouvindo. Aliás, o álbum todo pode soar assim, de certa forma. A reação mais provável é o choque. A genialidade do trabalho está aí.
Músicas que poderiam soar mais comerciais foram: “Heart-Shaped Box” e “All Apologies”. A primeiro com seu riff marcante e uma letra cheia de simbolismos e metáforas fala de Courtney Love (esposa de Cobain), Frances Cobain (filha do casal) e até sobre pacientes em fase terminal de câncer. Já “All Apologies” é uma pequena balada que também tem lá suas particularidades, tais como falar do som e dizer que está casado (Kurt e Courtney se casaram no Hawaii durante o pôr-do-sol).
“Frances Farmer Will Have Her Revenge on Seattle” fala sobre uma atriz do início do século passado que era muito à frente de seu tempo e que, muito por isso, acabou sendo tratada como louca e internada em uma clínica. O refrão da música “I miss the confort to be sad” retrata a vontade de ter seus próprios sentimentos, uma vez que altas doses de dopagem inibem toda e qualquer possibilidade de fazer isto acontecer.
“Pennyroyal Tea” é uma faixa bem complexa também, que trata de uma espécie de chá abortivo: a voz de quem está cantando é como se fosse o bebê que ainda nem nasceu, pedindo para que sua mãe beba e lhe tire dessa dor, deste sofrimento. Podemos entender como um pedido de ajuda, uma vez que outras partes da música são bem ligadas ao que Kurt passava “I’m on warm milk and laxatives/Cherry-flavored antacids”, falando que ele está tomando leite quente, laxantes e antiácidos (Kurt Cobain tinha uma dor muito forte em seu estômago que só conseguiu melhorar próximo ao fim de sua vida, quando um médico conseguiu diagnosticá-lo de forma correta. Esta mistura era o que fazia o estômago de Kurt ter sua dor amenizada).
O álbum todo possui um conteúdo bem mais maduro do que Nevermind. Aqui os temas abordados trazem reflexões mais sérias, além de uma sonoridade bem mais densa e agressiva. Se você quiser conhecer melhor o Nirvana, saber um pouco mais de quem era o Kurt Cobain, basta ouvir o In Utero.