GIRLS ON THE FRONT é um quadro criado por 4 redatoras para falar sobre mulheres e para encorajar outras a continuarem o seu objetivo na música e, para isso, contaremos a vida e carreira de mulheres no metal brasileiro e internacional. Nessa edição, conheceremos mais sobre a baterista Luana Dametto.
Luana Dametto nasceu em 22 de novembro de 1996 em Tapejara, Rio Grande do Sul, Brasil. Apaixonou-se logo cedo pela bateria e já aos 16 anos, começou sua vida no mundo do metal, sendo baterista da banda Apophizys e logo depois da Nervosa. Atualmente Luana está em um novo projeto de Death Metal “honesto e direto, bem old school”. Ela concedeu uma entrevista exclusiva para a Roadie Metal em que fala sobre seu início na bateria, suas referências, sua rotina e prática de estudos, o que significa ser uma mulher baterista no metal e muito mais.
Como e quais foram seus primeiros passos na bateria e o que te atraiu no instrumento?
Luana Dametto: Quando descobri que queria tocar bateria eu não tinha nenhum motivo exato, eu só sabia que queria fazer algo da vida. Ao longo do trajeto descobri muitas bandas e bateristas que me influenciaram a continuar tocando e melhorando, pois aí eu sabia que rumo queria tomar como baterista. A primeira coisa que fiz foi conseguir a bateria mais barata de iniciante que meus pais pudessem comprar, e logo depois já conheci meu primeiro professor, que tocava em uma banda de sertanejo da região, aprendi muito nesses meus primeiros anos, a cada dia uma coisa nova e uma motivação pra estudar. O que me atrai muito na bateria é o poder que ela te dá de expulsar todos seus demônios batendo e aprendendo, posso tocar com toda a força e na maior emoção, e além de ter feito música, ainda serve como sessão de terapia.
Quais são suas influências?
Luana Dametto: Dave Lombardo, Eloy Casagrande, Eugene Ryabchenko, Kerim Krimh, Aquiles Priester… Vish, tem tantos, quem é que não gosta de ver um super músico tocando, não é mesmo? Por sempre ter focado mais no Death Metal, eu gosto bastante de blast beats, sempre tento colocar um aqui ou ali, mas no final das contas prezo bastante por ter um som bem direto, algo que eu consiga tocar com pegada, e que seja apropriado pro estilo musical que eu esteja performando, às vezes adicionar coisas de mais pode mudar o rumo da música toda. Em uma categoria de Death Metal para bateristas, eu diria que eu sou Old School.
Na sua opinião, o que é preciso para ser um bom baterista?
Luana Dametto: Gostar de tocar bateria e nunca desistir. Parece uma resposta boba, mas é verdade. Ninguém nasce sabendo, alguns tiveram a vantagem de começar desde muito novos, outros nem tanto, mas no final das contas, todo mundo tem que praticar pra tocar o que quer que seja, não desistir é a primeira coisa que qualquer músico iniciante precisa saber, e é claro, ter paixão pelo que se faz, quem não gosta muito do que faz geralmente acaba desistindo, pois o caminho é longo e não tem glamour.
Qual sua rotina e prática de estudos?
Luana Dametto: Em casa eu toco um pouco por dia (quase todo dia, mas nem sempre), diria que 1h por dia é um tempo legal, tem dias que estou mais animada e toco mais, outros eu só toco pra manter o que tinha feito no dia anterior. Quando em tour eu não pratico, sinto que meu corpo já está sempre bem cansado da rotina de load in, sound check, load out… praticar só ia me deixar mais cansada pro show, então é melhor dormir nas horas vagas.
Sendo uma mulher na bateria, tocando metal, você já sofreu preconceito? Como lidar com isso?
Luana Dametto: Com certeza, já ouvi de tudo, que eu não teria força pra carregar um prato, que instrumento pra mulher é violão e piano, que eu não iria a lugar algum fazendo “coisa de homem”, pra tirar a roupa pra chamar mais atenção, como se eu fizesse isso por atenção. Tem tanta coisa que eu poderia falar aqui, o machismo ainda é imenso, eu quase que diariamente lido com comentários nos meus vídeos, falando da minha aparência, das minhas pernas, da minha cara. Eu acho que já acostumei e aprendi a ignorar automaticamente, é triste lidar com isso dessa forma, mas quando você ouve coisas do tipo praticamente todos os dias, você já não se importa mais e só quer fazer um trampo honesto pra quem curte, eu não posso fazer mais do que incentivar outras meninas a tocarem também, o que já é bem legal, então ignoro esses comentários e sigo em frente fazendo o que gosto.
O que acha que deveria melhorar no underground?
Luana Dametto: A parceria entre as pessoas, acho que muitas vezes falta esse sentimento de coletividade, vejo muito músico competindo pra ver quem é melhor, julgando outros no palco, agindo como se música fosse uma competição, e não arte. Isso também inclui o machismo que faz muitas meninas deixarem até de começar no meio. Essa coisa de ficar colocando regra pra tudo, pra como cada um deve tocar, gravar, que bandas são as mais “adequadas” de curtir. Tudo isso é ruim demais pra cena, deixa as pessoas mais jovens que estão começando desmotivadas, muitos são chamados de “poser” só porque começaram no rolê a pouco tempo, e por isso abandonam algo que podia ter se tornado muito maior. Em comparação a outros estilos musicais, o metal já tem menos público, e com essas atitudes definitivamente não atrairemos mais. Precisamos de mais parceria dentro da própria cena.
O que acha desse movimento de destaque das mulheres no metal?
Luana Dametto: Muito bom, o metal é predominantemente masculino, então não vejo problema nesse highlight que as bandas inteiramente femininas tem ganhado nesses últimos anos, ainda é algo novo. É tão importante ver outras mulheres no palco, ter essa representatividade pra quem está assistindo, de que todo mundo pode fazer isso e ter sucesso no que ama. Tem espaço pra todo mundo e todo mundo é capaz, é isso que esse movimento mais mostra.
Você é designer e criou a capa do Apophizys de 2015. Como foi esse processo?
Luana Dametto: Na época não tínhamos dinheiro pra gastar com uma arte profissional, e eu estava me arriscando em aprender a fazer umas colagens, até porque estava cursando designer. Aquela capa não foi muito ensaiada, foi algo que rolou naturalmente, eu não tinha (e ainda não tenho) muita habilidade de fazer uma arte digital, então usei o que pude pra fazer isso funcionar a nosso favor. Quem não tem dinheiro inventa (risos).
Quais os planos futuros?
Luana Dametto: Já estou trabalhando em uma banda nova de Death Metal, não posso falar muito ainda porque ela não foi propriamente divulgada, mas está tudo a caminho, estamos fazendo cada coisa em seu tempo, naturalmente elas vão acontecendo, sem desespero. Sinto que estou puxando meus limites com essa nova banda, redescobrindo muitas coisas e aproveitando bastante esse tempo em casa pra estudar. Nessa banda estou tocando com outras 3 musicistas e amigas, estamos bem felizes com os resultados e trabalhando cada uma de sua casa, infelizmente a quarentena limita um pouco em termos de gravação, mas vai rolar. Estou bem animada pra subir aos palcos de novo, principalmente com uma proposta de banda que sempre tive em mente.
Quais tipos de influências você tem em mente para o novo trabalho?
Luana Dametto: A meta da banda em si é fazer um Death Metal honesto e direto, bem old school nesse sentido, mas com uma sonoridade bem trabalhada. Dentro do estilo temos várias influências, cada uma puxa as suas pra que a gente faça uma mistura que todo mundo curta, minha parte é sempre puxar pro Swedish Death Metal, sempre foi e sempre será o que eu mais curto. O importante é que vai ser pesado e ter a cara de todo mundo.
Você pode enviar uma mensagem para seus fãs, leitores da Roadie Metal?
Luana Dametto: Agradeço a Roadie Metal pelo espaço e interesse, e também as pessoas que tiraram um pouco do seu tempo pra ler essa entrevista. Esse apoio é o que move as bandas e a gente também. Obrigada mesmo, nos vemos por aí!