O Tellus Terror é o típico representante da nova safra de bandas de Metal nacionais que nascem com uma visão profissional de sua musicalidade, dos talentos individuais e uma visão inteligente de mercado. Porém, nada disso seria suficiente se a banda não possuísse talento e, sobretudo um diferencial para conquistar seu lugar ao sol, sendo inclusive elogiada no exigente mercado estrangeiro.
Posto isto, não é de estranhar logo numa primeira audição o porquê de “EZ Life DV8”, seu primeiro trabalho, consolidar-se em uma pequena obra-prima conquistando diversos fãs e o respeito da mídia especializada.
Nesta entrevista exclusiva para o Roadie Metal, o vocalista Felipe Borges, um sujeito bem humorado e consciente, fala-nos sobre o caldeirão de influências que gerou o requintado universo do Tellus Terror. Confira abaixo o bate-papo na íntegra:
Roadie Metal: Felipe, ao ouvir EZ Life DV8, percebe-se que a banda fez o trabalho preocupada com sua estética, qualidade de gravação e sonoridade visando o mercado exterior. Isso foi algo orquestrado pela banda ou ocorreu de forma natural?
Felipe Borges: Desde quando eu fundei o Tellus Terror, eu decidi que gostaria de fazer algo que fosse voltado para o melhor possível dentro de nossas possibilidades, algo que não fosse uma reunião esporádica de amigos querendo fazer um som apenas por diversão, mas sim, algo que fosse feito com aquele gosto de ver cada tijolo que você está subindo para que o muro fique cada vez mais firme e forte.
E foi com esse pensamento, que sempre tive a preocupação com cada detalhe do nosso trabalho, desde o conceito do álbum, da criação da arte da capa e do encarte, das letras das músicas etc… Fazemos música para as pessoas, e por isso vem a nossa vontade de cada vez mais, trabalharmos para sempre darmos o nosso melhor em tudo.
Roadie Metal: Você acha que o mercado atual define a atuação de uma banda ou a própria banda trilha seu espaço?
Felipe Borges: Quando penso em mercado atual, me dá uma certa tristeza, devido ao fato das pessoas não comprarem os CD’s originais das bandas, e com isso as gravadoras não podem mais assinar contratos com banda nenhuma, simplesmente não há vendas!
Me revolta ver a nova safra de Bangers mandando mensagens entre si e falando: “- Aí cara, baixa esse som aí dessa banda por esse link…”
Costumo dizer que todos temos que nos adaptar a evolução do Mercado para vivermos melhor. Aí penso que hoje em dia, CD de banda virou cartão de visita, para conseguir divulgar seu trabalho (mesmo sem ganhar nada), e tentar ganhar com shows…
Mas aí vem outro problema do Mercado; temos muitos produtores que só pensam em ganhar dinheiro para eles mesmos, e não dão nem um pão com mortadela para as bandas que estão lá no evento dele.
Para esse tipo de produtores eu dou um recado, vão se foder! Toda banda gasta muito dinheiro ensaiando, e comprando instrumentos bons, para ficar sendo arroz de festa em seus shows para você ganhar grana e se achar fodão. Vão a merda seus sacos de bosta!!
Mas bandas, pensem um pouco, parem de tocar por nada, ou vocês vêem por exemplo o Slayer vindo tocar de graça com backline de merda por aí? Essa e outras bandas são grandes, pois se dão o respeito, isso sim gera um BOM Mercado para todos. Se a banda é iniciante e não tem público, ok, peça transporte e um lanche, e conforme seu nome for ficando forte, e for enchendo casas de show, peça mais de acordo, pois relação boa de Mercado, é onde todos ganham.
E quem discordar, eu mando ir se Fuder também porra!
Roadie Metal: Num release distribuído pela banda na internet, vocês citam que respeitam todas as crenças e formas de pensamento; isso se reflete obviamente na sonoridade da banda que é um caldeirão bem mesclado de influências que vão do Metal Tradicional ao Black Metal. Fale-nos um pouco de como foi construída essa identidade e o que abordam em suas letras.
Felipe Borges: Respeito é a base para qualquer situação sadia. Banda lida com o público, e o mínimo de coerência que uma banda que atua de forma profissional, é saber respeitar a todos de forma igual.
Nós do Tellus Terror não estamos nem aí se você é o “Russão” alemão dos olhos azuis ou se você é Negro, se você é alto ou baixo, se você é obeso ou um magrelão, se você é feio ou o Brad Pitt do cangaço, se você é machão ou se é gay, ou se você é satanista ou se é crente, se você é rico pra caralho ou se você é pobre, para nós TODOS somos iguais e temos o mesmo valor sem exceção!
Eu particularmente detesto as igrejas, odeio evangelho etc… mas jamais irei destratar quem goste (contanto que não venham tentar me evangelizar). Tenho amigos crentes, que são pessoas maravilhosas, eu os admiro como seres Humanos, e não pela religião deles ou como eles se parecem, ou por opção sexual deles. Tenho amigos gays, tenho amigos negros e brancos, ricos e pobres, e tenho orgulho de todos eles.
Com esse pensamento muito bem definido, eu sempre escolho por montar conceitos de álbuns e escrever letras que tenham a ver com todos nós, independente das escolhas que fazemos em nossas vidas ou do que somos.
Por isso o nome da banda também é Tellus Terror (Tellus é planeta Terra em latim). Todos nós vivemos terrores reais porque estamos aqui.
Roadie Metal: O CD foi produzido por Fredrik Nordström e Henrik Udd, dois profissionais que já trabalharam com Arch Enemy, At The Gates, Rotting Christ; qual foi a contribuição deles no resultado final do disco?
Felipe Borges: Esses caras são simplesmente os mestres! Aprendemos muito com eles, e eles nos ensinaram o que é o som característico da Europa, e que som!!!
Eles nos mostraram como regular os timbres que eles usam para essas bandas de renome mundial, e os usaram em nosso som. Ficou animal!
Roadie Metal: Como o ecletismo da música de vocês se refletiu no processo de gravação de “EZ Life DV8”?
Felipe Borges: Todos nós somos bem ecléticos quando o assunto é Rock And Roll e Metal. Isso aconteceu de forma natural, pois todos da banda compuseram juntos o disco. Eu simplesmente abomino o fato de excluir alguém da banda nas composições, e com isso, conseguimos extrair o máximo possível dos músicos.
Eu por exemplo, escuto muito The Cure, New Order, Agarophobic Nosebleed, Popyseed, Jeff Beck, Deicide, Abruptum, Beherit, Neuraxis etc… uma misturada da porra. (risos)
Roadie Metal: Fale-nos um pouco do conceito da belíssima capa do CD, feita pela artista grego Seth Siro Anton.
Felipe Borges: Eu me lembro das vezes que eu telefonava para o celular do Seth Siro, e conversava com ele sobre o fato de que eu queria que ele simplesmente fizesse a capa, 100% por conta da imaginação dele. Disse a ele que eu não queria me meter na idéia dele, então ele decidiu vir com essa idéia da capa, e de cara eu falei: “- Cara, essa é a capa!!”.
O Seth é um cara muito maneiro e engraçado também. Lembro que ele ficava preocupado com a conta de telefone (risos) e eu dizia, relaxa cara, estou ligando de uma empresa aqui, não sou eu quem vai pagar essa conta e ele ficava doido de preocupação (risos)
Ele fez a capa baseada nas letras do disco. Eu mandei as letras para ele, e ele fez essa capa aí que vocês conhecem.
Roadie Metal: A que se refere o título “EZ Life DV8” ?
Felipe Borges: Eu gosto de brincar com as palavras, EZ Life DV8 (Lê se Easy Life Deviate). Seria, em português, “desvio fácil da vida”. Ele se refere a como estamos sujeitos a forças naturais muito além de nós, que podem facilmente dar rumos novos em nossas vidas, ou simplesmente acabar com elas de uma só vez.
Roadie Metal: Planos para uma turnê fora do Brasil? Como esta sendo a divulgação do álbum fora do Brasil?
Felipe Borges: Nossos planos para tentar agendar uma turnê fora do Brasil, virão com o lançamento do nosso segundo disco.
Vamos planejar bem isso aí, pois não queremos sair pelo Brasil afora, tocando em um monte de lugares, para não ganhar nem um centavo, e pior ainda, gastar dinheiro do bolso para bancar a turnê para brincar de se iludir de Rock Star.
Sou pé no chão, e sei que pelo menos, passagens, estadias e alimentação temos que receber, senão prefiro ficar aqui no Brasil mesmo, que pelo menos cama arrumada e arroz com feijão todo dia eu tenho. (risos)
Roadie Metal: No cenário atual onde o formato digital predomina, como o Tellus Terror tem trabalhado seu processo de divulgação e venda do álbum e qual a visão de vocês do atual cenário nacional?
Felipe Borges: O Mercado digital também sofre com a pirataria dos downloads… não tem para onde correr atualmente. Quanto a divulgação, usamos muito a internet para divulgar nosso trabalho, e isso tem sido ótimo!
Roadie Metal: Pra finalizar, fale-nos um pouco dos planos para o próximo trabalho.
Felipe Borges: Já estamos compondo o novo disco em nosso estúdio (facebook.com.br/tellusstudio), e nossos planos são de lançar esse novo disco até agosto desse ano.
Posso adiantar que será um disco nas mesmas características da banda no estilo M.M.S. (Mixed Metal Styles), só que bem mais trabalhado, e mais bem elaborado! Retrata bem a evolução natural de uma banda. Será um disco conceitual e cronológico! Queria também agradecer pelo espaço cedido, e agradecer a todos os leitores! Vocês todos são foda!!! Grande Abraço!
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