O programa Heavy Metal Online é reconhecido por bandas e artistas do Rock e Metal em todos os seus gêneros. Há tempos vem não só divulgando e dando cobertura à música pesada, tendo como prioridade o trabalho das bandas nacionais, como tem feito um importante trabalho de colocar em debate temas e a discussão de caminhos que se possam fortalecer a cena como um todo. No comando deste precioso trabalho está Clinger Carlos, um grande batalhador, incentivador e pioneiro do jornalismo do Rock! Sendo irmãos neste terreno por vezes dificultoso da música pesada, nós da Roadie Metal fomos bater um papo com este valoroso guerreiro, recém-chegado de sua excursão ao aclamado Otacílio Rock Festival!
Roadie Metal: Clinger, é um prazer recebê-lo na Roadie Metal! Fale-nos um pouco do início do programa Heavy Metal Online e como surgiu a ideia de criá-lo?
Clinger: Grande prazer em responder esta entrevista, já que tenho visto um crescimento constante dos trabalhos da Roadie Metal e poder compartilhar minhas ideias aqui é um grande prazer.
Como sempre digo, antes eu fazia um fanzine chamado “Skeletons of Society” em xerox e distribuía em todo Brasil via carta social. Passou um tempo e não consegui mais continuar. Passou alguns anos e comprei uma câmera e fui fazer um estágio numa TV local, apresentando um programa de meio-ambiente, que é a minha área profissional, onde aprendi muita coisa sobre luz, câmera, edição, etc. A partir daí comecei a fazer os programas dentro do meu quarto e depois a coisa foi evoluindo.
Roadie Metal: Fale do seu começo na cena Metal. O que você ouvia e lia na época que começou sua trajetória?
Clinger: Eu comecei no final dos anos 80 ouvindo Raul Seixas e peguei aquele estouro do Guns n’ Roses na época do Rock In Rio 91, mas logo em seguida ganhei o “The Number of The Beast” do Iron e o “RDP Ao Vivo” e me encantei com o estilo. Comecei a organizar eventos em 1994 e a coisa foi rolando, até chegar nos dias de hoje.
Roadie Metal: O Heavy Metal Online é um espaço que, sem dúvida, dá a melhor perspectiva do que é o cenário do Metal nacional nas diferentes regiões do Brasil. Você viaja muito, mostrando os vários cenários da música pesada em nosso país. Em sua opinião, quais as principais diferenças e peculiaridades?
Clinger: Quando se trata de música underground no Brasil, a coisa não é muito diferente. Não existe crise, falta de crescimento, nada disto. A coisa sempre andou bem, com pontos altos e baixos em certas regiões, mas existem peculiaridades que posso citar como por exemplo os festivais com camping que existem no estado de Santa Catarina e que não emplacam no sudeste/norte/nordeste do país. Acho incrível isto, como tentam fazer este modelo de fest, longe das cidades, onde as pessoas podem levar suas barracas e passar ali uns três dias interagindo, mas os públicos destas regiões não se adaptam a esta cultura. Por outro lado, vejo o nordeste recebendo turnês de bandas de Metal nacional ha décadas, de bandas que sobem fazendo seus shows, com uma rota longa e ainda conseguem vender muitos materiais na viagem, dormir na casa dos amigos e tudo mais. O nordeste sempre se destacou neste quesito de turnês e já o sul não consegue fazer isto. Nunca ouço dizer que uma banda foi pro sul e conseguiu encaixar 10 shows de uma só vez. Talvez até possa acontecer, mas não é comum, porque converso com os headbangers de lá e eles falam que realmente não é cultura deles.
Roadie Metal: Vendo seu programa, também percebe-se que há dois tipos distintos de músicos: os que veem a banda como um produto e buscam o lado mais profissional, e os músicos mais “românticos”, que tocam em qualquer condição por amor ao estilo e público. Qual sua opinião sobre esta dicotomia?
Clinger: Tudo é válido, mas para qualquer artista que trabalha com música underground, sobreviver dela é algo impossível. Lógico que bandas buscam o profissionalismo a todo momento, tanto na produção quanto no seu gerenciamento e gosto muito de receber materiais de bandas com esta mentalidade. Mas o programa é dedicado a todo e qualquer músico ou banda que esteja no underground, sem divisão de tamanho, estilo ou status. Apoio todas que me mandam materiais, principalmente físico, pois dou muito valor a um cara que grava seu trabalho, paga caro pra lançar e depois posta no correio pra eu divulgar. Tomo muito cuidado com isto para não decepcionar quem faz isto pelo Heavy Metal On Line.
Roadie Metal: Outro aspecto interessante é que o HMOL também se preocupa em discutir temas polêmicos do meio como radicalismo, preconceito, valorização nacional… Na sua opinião, quais são os aspectos de força e fraqueza no Metal nacional?
Clinger: Eu sempre coloco em foco estas questões, mais por uma questão de viver isto no dia a dia e de não querer ficar passando notícia repetida no programa, que na verdade é um saco. Imagina se você for ver o programa e deparar comigo dando a notícia que o Iron Maiden vai tocar no Brasil! Você não vai se interessar porque já sabe disto há uns 30 dias atrás. Então eu evito estas notícias e foco no cotidiano da cena, em assuntos não abordados onde pessoas possam refletir com os assuntos. Isto tem dado muito resultado positivo para o programa e para os headbangers em geral. Recebo muitos elogios por onde passo, pois muitas pessoas, além de descobrir muitas bandas através de programa, também são impactados por temas nunca antes abordados por ninguém.
Roadie Metal: Na psicologia de mercado, estuda-se o aspecto de poder de marcas e a impressão de status que ela dá a quem consome certo produto. No Brasil, onde a maioria do público não tem formação musical, sempre tivemos uma cultura de achar que o que vem de fora é melhor que o que é feito aqui, ou seja, parece ter mais “status” se for em show gringo, mesmo sendo este pior que um nacional. Como você vê este aspecto?
Clinger: Você citou a palavra certa: “mercado”. Isto é uma questão mercadológica. Cada um busca um produto ou entretenimento. Se eu tenho uma empresa e meus clientes estão deixando de me ver pra ir pra outra empresa algo errado está acontecendo. O problema da cena no Brasil é que muitas bandas ficam putas com quem paga caro pra ir em show gringo e não paga pra ir no nacional, mas isto é incontrolável, pois é o mercado. Eu tenho uma visão totalmente diferente desta questão. Acho que se está com pouco público é porque a banda não chama público, porque o produtor não divulgou legal ou falou muita merda nas redes sociais e ninguém vai a seus eventos. Eu sempre acho que o problema é da empresa e nunca do cliente. Penso assim!
Roadie Metal: Você recebe muito material para divulgação. Do que tem escutado, o que poderia destacar no cenário nacional?
Clinger: Eu tenho recebido muita coisa mesmo. Certo mês fui em dois eventos e recebi 45 CDs, fora os que chegaram pelo correio, que no final do mês somaram quase 70. Eu catalogo tudo, deixo tudo anotado com o nome de quem me enviou e coloco numa sequência para divulgar, tentando não esquecer de ninguém. Eu escuto todos os CDs que recebo, chego em casa e sempre coloco pra rodar e vou selecionando as músicas que gosto pra rolar no programa. Então muitas pessoas pensam que só escuto música extrema e não é verdade; escuto ótimas bandas de Hard Rock que enviam materiais e divulgo no programa, além de bandas de Punk, Progressivas, etc. Com relação à destaques, várias bandas nacionais lançaram ótimos trabalhos nos últimos meses como o caso do Doomsday Ceremony, Disgrace and Terror, Beyond The Grave, Velho, Juggernaut, mas o CD que mais estou ouvindo ultimamente é o novo do Vulture, chamado “Abandoned Haunt of Cosmic Hate”. Este álbum é uma aula de Death Metal na linha do Bolt Thrower e acho ele fantástico!
Roadie Metal: Apesar da aparente “crise” em nosso meio, percebe-se o lançamento de muito material e muitas novas e boas bandas surgindo. O Metal nacional sempre viveu de ciclos. Concorda?
Clinger: Com certeza sobrevive a tudo e não será crise no país que vai impedir que ótimas bandas apareçam e lance seus trabalhos, afinal de contas, pra mim, o Brasil sempre esteve em crise, (risos). Acho sensacional que muitas bandas sempre estão produzindo, marcando turnês, entrando de cabeça em organizar eventos e assim a cena vai andando. Não digo que a cena hoje está pior ou melhor que antes. Ela está do mesmo jeito, usando os recursos que tem, sendo alavancada por pessoas de coragem e sempre andando pra frente. Talvez se todos nós que estamos fazendo algo pelo Metal no Brasil estivéssemos com foco em ganhar dinheiro, aí sim a coisa poderia se arruinar, mas como fazemos tudo por paixão mesmo, tenho certeza que está roda não para de rodar!
Roadie Metal: Em sua opinião, o que poderia ser feito inclusive pelos próprios músicos para que se fortalecesse e profissionalizasse o cenário de vez e melhorassem as condições de trabalho?
Clinger: Se tratando especificamente de músicos que estão no underground, acho que as bandas precisam ser mais comerciais com seus trabalhos, vender mais, oferecer mais, chamar o público pra conhecer o material, etc. Vou em muitos eventos que tem bandas com um ótimo merchandising e não vejo eles perto da banca, nem mesmo oferecendo nada aos fãs. Os músicos têm que saber a hora certa de abordar a pessoa e vender o seu trabalho, porque dali ele tira a grana pra tocar o seu “negócio banda”. Vejo ótimas bandas com ótimos álbuns e você chega no show e os caras nem levam o material pra vender. Certa vez eu fui no show do Noturnall aqui perto da minha cidade e vi o Aquiles depois do show, ele simplesmente falou no palco que estaria na banca vendendo seus materiais e que todos poderiam ir lá pra tirar um foto com ele e assim que desceu do palco foi direto, vendeu muito material, tratou todo mundo super bem e saiu de lá com uma boa grana. Isto tem que acontecer com qualquer banda. A ficha precisa cair pra esta questão, porque muitas bandas querem tocar e depois ir encher a cara, ir fumar “unzinho” e tal. Tudo bem, pode-se fazer tudo isto, mas as bandas precisam ser mais comerciais com seus produtos. E ainda digo, ser comercial não é cobrar cachês que inviabilizem o evento de produtores da cena.
Roadie Metal: O que o Clinger fã gosta de ouvir em suas horas de folga? Quais suas bandas favoritas, estrangeiras e do Brasil?
Clinger: Eu escuto muita coisa internacional também. Estou ouvindo muitas bandas que há alguns anos não conseguia ouvir, porque tinham mudado sua sonoridade radicalmente e na época aquilo não entrava na minha cabeça. Mas você vai ficando velho e começa a entender coisas, que antes por causa de um certo radicalismo, não conseguia entender. Desta linha estou ouvindo Tiamat, Amorphis e Paradise Lost
Roadie Metal: Em seu programa você já abordou a questão das bandas autorais estarem perdendo espaço para bandas cover, mas você acredita que o público destas duas vertentes é o mesmo? Qual a sua ótica sobre esta questão?
Clinger: Eu acho que são públicos diferentes, pois como disse antes, público é complicado de você entender ou manipular. Mas também não podemos fechar os olhos pra dizer que muitos produtores que antes faziam bandas autorais hoje estão fazendo somente covers, isto atrapalha muito, porque você perde quem apostava na cena e que hoje vive iludido em fazer cover pra sobreviver. Sabendo que mesmo fazendo cover muitas pessoas não sobrevivem somente dele, porque sei que nada é fácil neste país em se tratando de música.
Roadie Metal: Fale sobre as atuais parcerias da Heavy Metal Online e quais seus planos para este 2016?
Clinger: Neste ano continuarei firme, como sempre faço. Lançarei meus programas mensais com temas interessantes, como por exemplo uma matéria especial com as mulheres no underground, outra sobre a desunião que os bate-bocas políticos vem causando à cena, etc. Irei a festivais importantes, como o Ruídos No Sertão, Otacílio Rock Festival, estes dois já realizados e ainda o Roça ‘n’ Roll. Irei pra Europa este ano também conhecer alguns países e fazer algumas matérias, além de ir no Wacken na Alemanha, apesar que bandas gringas não são meu principal foco. Mas vou fazer uns lances lá pra gerar conteúdo pro programa. Sobre parcerias eu continuo com meus amigos, principalmente, que fazem com que o programa sempre aumente suas visualizações, além claro das assessorias, produtores, bandas e ainda meu parceiro Reynaldo Trombini, que gerencia nosso site, que possui conteúdos de bandas nacionais e internacionais! (www.heavymetalonline.com.br)
Roadie Metal: Muito obrigado por sua atenção e sucesso em seus projetos Clinger! Espaço aberto para você!
Clinger: Obrigado pelo espaço! Eu gosto muito de responder entrevistas, falar o que penso, mostrar o que faço e ainda fazer a engrenagem rodar, como sempre fiz, desde que organizei meu primeiro evento no dia 28 de maio de 1994. Depois disto tivemos fanzine. Meu irmão, Clinton, entrou de cabeça fazendo eventos nacionais e internacionais em Belo Horizonte, depois surgiu o Venereal Sickness aqui dentro de casa, com meus dois outros irmãos que tocam baixo e bateria na banda e assim continuamos ao lado da família e dos amigos fazendo algo pelo Metal no Brasil, sem querer nada financeiro em troca. Valeu! Um grande abraço e confiram nosso canal no YouTube com nossos programas!
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2 comments
muito boa, a entrevista!!!!
Grande Matéria!
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