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No dia 27 de outubro, Curitiba recebeu a turnê final de Creedence Clearwater Revisited. A banda, que já era um desdobramento e uma forma de homenagem aos fãs do Creedence Clearwater Revival, colocou um ponto final de vez nas apresentações. Sem mais “Have you ever seen the rain?” e outros sucessos clássicos que marcaram o final dos anos 60 e o começo dos anos 70 no estilo rock country folk americano. E marcaram também o coração do público. Parece clichê, não é mesmo? Mas quem esteve no show sabe bem que foi verdade.
Só que não foram as lágrimas de uma despedida que marcaram a noite. Se fosse para resumir em uma só palavra: diversão. No palco, os músicos se divertiam. Na plateia, o mar de gente que se formou na Live Curitiba, cantava, batia o pé ou balançava no ritmo. O clima foi tamanho que se instalou na noite, que quase dá para dizer que foi mais um teletransporte. No fim da noite, foi de cortar o coração a quantidade de fãs, com vinis na mão, esperando a última oportunidade de um autógrafo, que não aconteceu. Muita gente foi embora triste por isso, mas com a certeza que, ao menos nessa noite, fez parte da história dessa etapa da banda. Mas isso é coisa para o final, vamos do começo?
Banda de Abertura: Doctor Pheabes
Era um domingo, então por via de regra, normalmente os shows começam cedo por aqui. Sendo assim, a banda Doctor Pheabes subiu no palco lá pelas 19h45. Eles fizeram a abertura do evento e o aquecimento para o que viria depois. Com um hard rock animado, a lá anos 80, a banda de São Paulo, formada por duas duplas de irmãos, começou a agitando a noite, enquanto uma parte do público ainda chegava. Com Eduardo Parrillo no vocal, Fernando Parrillo na guitarra, Fabio Ressio no baixo e Paulo Ressio na bateria, Doctor Pheabes tem três álbuns lançados, mas optou por um setlist voltado exclusivamente ao “Army of The Sun”, lançado em 2019. “Muito obrigado. Vocês estão preparados para o Creedence. Fizemos a tour com eles. Vocês vão gostar muito do show. Curitiba é a cidade da cultura, e rock´n´roll faz parte da cultura.”, disse o vocalista.
Setlist:
“Rebel Riders”, “Your Love is mine”, “Army of the sun”, “Stranded in Love”, “Here to stay”, “Find a way”, “Back in town”, “Ask of you”, “Better off alone”
Creedence Clearwater Revisited
A medida que se aproximava as 21hs, a ansiedade do público aumentava e as pessoas se aglomeravam mais próximo ao palco. E lá pelas 21h00, Creedence Clearwater Revisited surgiu, com a luz apagada e se dirigiu aos seus instrumentos. Antes de começar a primeira música, o público já estava enlouquecido e a plateia se iluminou tamanho os flashes de quem quis eternizar este momento.
Stu Cook, o baixista da banda original e que encabeçou o projeto junto com Doug “Cosmo”, sorria o tempo todo. “Curitiba, Brasil. Obrigado. Como vocês estão? Esta é a nossa turnê de despedida. Bem vindos a nossa festa!”, disse Stu, que colocou em palavras a sensação que tomou conta de todo o show. Era visível que Stu se divertia no palco, sorria, cantava e interagia com a plateia, com o tecladista e o baterista. “A gente começou há 55 anos e estamos até hoje. Quem diria?”, disse Stu.
Em determinado momento, a mágica aconteceu e não parecia um show final de uma banda com tantos hits. Soava mais como se a plateia estivesse repleta de amigos dos integrantes, em que todo mundo se sentia a vontade. E esse clima de amizade vinha, claro, do palco, a tal ponto que ao apresentar os músicos, Stu mostrou o dedo do meio ao tecladista que riu e os dois fizeram uma jam. Quer coisa mais familiar que isso?
Afinal, 55 anos tocando juntos, sai do contexto de amizade e se transforma em outra coisa. Não, espera. “Eu comecei a tocar um ano após nos conhecermos, então nós estamos tocando juntos por 60 anos.”, corrigiu o baterista. Então Doug chamou Stu, que havia saído do palco. “Rock´n´roll é sobre se divertir, então queremos continuar fazendo isso. Senhoras e senhoras, o nosso baixista original.”, disse Cosmo. Stu entrou desfilando no palco, com uma música bem característica de apresentações de rock blues. O baixista pediu aplausos com as mãos e deu um abraço super carinhoso em Doug, como quem celebra e se despede de uma grande parceria. Entre diversas palavras, Stu disse: “60 anos saindo com o Cosmo, 60 anos de sonhos, não foi uma vida ruim”.
Mas também houve espaço para uma interação com os “novos” músicos. Logo depois do clássico “Suzie Q”, o vocalista Dan disse que estava feliz por estar ali e entrou numa de perguntas e respostas, cuja a da plateia era, sim, claro. “Português muito ruim, me desculpem. Vocês estão se divertindo? (Sim!) Vocês querem cantar? (Sim!), Então vamos lá. (Sim!)”. Ele riu, a plateia foi a loucura e a música começou.
“Este é o nosso último show no Brasil para sempre. Se você quer curtir, se realmente quer curtir, cola na gente.”, disse Stu. Quando voltaram para o bis, o clima de festa reinou e eles entraram brindando no palco, e fazendo stories para as redes sociais. O vocalista estendeu a bandeira do Brasil, e a plateia gritou “Creedence” em coro.
Poético dizer que o fim foi um encontro. Da banda que queria se divertir, do público que queria um pedaço, e da casa, que abrigou mais uma noite que entra para a história local. Aquela de gente comum, feita pelos pais e filhos que ouviram juntos a última noite do Creedence Clearwater, que já tinha deixado de ser reavivado, agora deixou também de ser revisto. Para além das memórias da noite, ficam também os vídeos. O que se torna online, não se acaba.
Setlist:
“Born on the Bayou”, “Green River”, “Lodi”, “Who’ll Stop the Rain”, “Susie Q”, “Hey Tonight”, “Long as I Can See the Light”, “I Put a Spell on You”, “Down on the Corner”, “Lookin’ Out My Back Door”, “Midnight Special”, “Bad Moon Rising”, “Proud Mary”, “Fortunate Son”, “Have You Ever Seen the Rain?”, “Molina”, “Travelin’ Band”, “Up Around the Bend”.