Todos que curtem o bom e velho Metal sabem do que aconteceu com a banda de Metal brasileira de maior sucesso no mundo todo: Sepultura. Houve uma troca de vocalista no meio dos anos 90 por motivos de brigas e problemas entre os integrantes, o que acarretou a saída do então vocalista Max Cavalera. A briga fora tão séria que houve até um desentendimento familiar entre os irmãos Max e Igor Cavalera, este último era baterista do Sepultura na época.
Dez anos após a separação e a briga, Igor liga para o irmão, então vocalista e guitarrista da banda Soulfly, para retomarem os laços familiares. Tais laços foram retomados e, posteriormente, voltaram a tocar juntos. Primeiro em alguns shows do Soulfly, depois resolveram montar um projeto paralelo (pois ambos já estavam trabalhando com outras bandas) para que estivessem juntos, de volta aos primórdios: tocando juntos.
O que é o Cavalera Conspiracy? Para Max, é a chance de voltar a ter a pegada natural que tinha com seu irmão no Sepultura. É a chance de mostrar novamente o som que sempre fizeram juntos. O mesmo ainda disse em uma entrevista que a ligação musical entre os dois é tão forte que apenas no olhar, apenas na apresentação da música crua, os dois se entendem perfeitamente e o som sai “perfeito”. Passaram-se 10 anos, mas parecia que nunca haviam parado de tocar juntos, tamanha a conexão. Realmente não tinha outro nome, Cavalera Conspiracy foi muito bem escolhido. Era a volta da música visceral, do natural deles: juntos.
O primeiro disco do trabalho foi intitulado “Inflikted” (Infligido). Sua primeira música, com o mesmo nome, traz a bateria característica de Igor (trabalhada, com ferocidade) junto de uma pegada agressiva e uma letra reflexiva: sim, a música que sempre tocaram, o estilo que foi tocado por eles desde cedo estava voltando, a soma, a junção dos irmãos fazendo o que faziam de melhor: o Metal; mas, agora, juntos novamente. A música ainda traz reflexões “Vermes e lepras; isto é o inferno ou céu?”, com aquela descrição, onde estariam? O infligido pode ser entendido como aquele em que foi imposta a pena. Seria uma autorreflexão sobre a pena de perder os amigos/companheiros de banda e o irmão?
Max, em uma entrevista, também disse da importância de não haver interferências de outros estilos no som da banda. No Soulfly trabalhavam com influências de outras vertentes da música. Neste projeto com o irmão, fariam o que amavam fazer desde sempre: o Metal e apenas o Metal.
Outra música que chama muito a atenção no disco é a “Black Ark” (Arca Negra). Fazendo um paralelo com a Bíblia, a arca simbolizava o recomeço e só continuaria a existir quem estivesse lá dentro. Aqui simboliza o mesmo recomeço, porém com o aprendizado de uma “alma torturada”. Recomeço, sim, aprendizado, aprender com os erros. E por que uma arca? Porque é para todos! Basicamente ele diz que não importa de onde a pessoa vem ou quem ela é, todos “entrarão” na arca. Neste trecho chegamos ao ápice do termo recomeçar: “Aqui está este novo dia/ Quando nos levantaremos/ Lutaremos por nossas vidas/ Temos que continuar”. E ele lutou, não? E ele continuou, não?
O álbum é muito bom e traz todas as características que os amantes do Metal adorarão: é um disco trabalhado, com muita “pegada” e com a sintonia perfeita que os irmãos têm na criação e na execução das músicas. E não só este álbum segue com as características, do retorno deles juntos aos palcos até hoje vieram outros trabalhos, todos bem apresentados e seguindo a mesma característica do primeiro. A banda tem hoje três discos lançados: “Inflikted” (2008), “Blunt Force Trauma” (2011) e “Pandemonium” (2014).
Aí está a volta da música visceral. Os instrumentos sendo tocados em perfeita harmonia com a letra, com a mensagem, de forma forte e gritada, como se houvesse um peso a ser tirado, uma culpa. Os irmãos retomaram e buscaram o som que sempre fizeram juntos: buscaram o recomeço.