Apesar do discurso anti-comercial, de baluartes do Thrash Metal, que se manifestavam avessos à ideia de, algum dia, gravar um videoclipe, a primeira experiência do Metallica nessa área não poderia ter sido mais bem sucedida. Em primeiro lugar, por uma questão de expectativa do público, que estava acompanhando a banda em uma fase crucial de sua carreira, depois de ter gerado um dos principais álbuns de Metal de todos os tempos, “Master Of Puppets”, ter perdido o inesquecível baixista Cliff Burton em um acidente fatal, e ter, após a inserção de Jason Newsted, lançado mais um divisor de águas, com o vinil duplo de “…And Justice For All”.
Até então, o acesso que as pessoas poderiam ter, do Metallica em vídeo, limitava-se à enxurrada de gravações piratas disponíveis, compiladas posteriormente no VHS “Cliff´Em All!”. O clip de “One” foi uma concessão necessária para o alcance que a banda estava obtendo, mas nada com o Metallica poderia ser muito convencional. Se é para fazer um clipe, façamos do nosso modo!
A banda filmou suas partes em Long Beach, na Califórnia, e foi dirigida em conjunto por Michael Salomon e Bill Pope, que também dirigiu a fotografia. Salomon tem uma carreira de diretor de vídeos musicais mais focada em artistas com maior destaque dentro do cenário da música Pop e Country norte-americana e um de seus trabalhos mais conhecidos é o de editor do clipe de “La Isla Bonita”, de Madonna. Pope, por outro lado, tem um trajeto mais destacado na cinematografia, tendo sido posteriormente o diretor de fotografia da trilogia Matrix e dos filmes Homem-Aranha 2 e 3, de Sam Raimi. Em matéria de clipes musicais, ele também dirigiu os vídeos de “Red Rain” e “Mercy Street”, de Peter Gabriel.
“One” foi editado de duas formas: uma apenas com as cenas da banda tocando; a outra, com inserções de trechos do filme “Johnny Vai à Guerra” (Johnny Got His Gun), de 1971, no qual a letra da música foi inspirada. Este filme foi o único dirigido pelo escritor Dalto Trumbo, roteirista de, entre outros, “Papillon”, “Nosso Amor De Ontem”, “Exodus” e “Spartacus”, e é estrelado por Jason Robards, Donald Sutherland e Timothy Bottoms, no papel principal, e um dos poucos de realmente destaque em sua carreira, juntamente com o desempenho no filme “A Última Sessão De Cinema”, ao lado de Jeff Bridges, no mesmo ano. A história do filme, claramente antibelicista, narra os pensamentos e as memórias de um soldado atingido em fogo, durante a Primeira Guerra Mundial, que não consegue se comunicar e desconhece a plena extensão da tragédia a qual foi submetido.
Os momentos em que a banda surge tocando são de uma simplicidade espartana. Ambientados em uma espécie de galpão, com muitas sombras, as imagens foram captadas em um preto-e-branco meio azulado, onde o Metallica interpreta a faixa com toda a aura de sobriedade que carregava naqueles dias e com uma intensividade à prova de contestação. Enquanto tantos grupos realizavam seus primeiros registros visuais profissionais com produções baratas, o Metallica não se apressou em fazê-lo e pôde irromper com um resultado simples, mas muito bem pensado e realizado, corroborando para sua posição de liderança dentro do estilo.